Responsabilidade pelo mundo

Uma equipe de voluntários percorreu, à noite, algumas das nossas cidades[1], para falar com os “sem teto”, conhecê-los e perguntar-lhes do que necessitavam.

Os resultados: a maioria carece de trabalho, é estrangeira e dorme ao relento, vive de migalhas ou de esmola, e, às vezes, é vítima de delitos. Em outras das nossas cidades, bastante prósperas apesar da crise econômica, um jornal local publicou uma ampla reportagem sobre as famílias de imigrantes que, cada dia, rolam na miséria, para se alimentar do que outros deixam.

Interpretando São Paulo, disse Bento XVI que a fé cristã“implica uma responsabilidade por este mundo”. Esta responsabilidade não é uma utopia abstrata, nem se dilui na “humanidade”, mas nos afeta a cada um, particularmente aos cristãos, e, de uma maneira imediata, aos fiéis leigos, isto é, à maioria dos batizados, homens e mulheres imersos na vida familiar e profissional.

Por ocasião do 20º. Aniversário da exortação Christifideles Laici (1988), o Papa assinalou que os fiéis leigos estão chamados a ser“testemunhos do Senhor e redescobrir e experimentar a beleza da verdade e a alegria de ser cristãos”. Eles têm como característica a índole secular. Isto significa – continuando o Concílio e a citada exortação – que “o mundo, o emaranhado da vida familiar, laboral, social, é o lugar teológico, o âmbito e o meio de realização da sua vocação e missão”.

Em termos mais concretos: “Todo ambiente, circunstância e atividade em que se espera que possa resplandecer a unidade entre fé e vida, está confiado à responsabilidade dos fiéis leigos, movidos pelo desejo de comunicar o dom do encontro com Cristo e a certeza da dignidade da pessoa humana”. E, desta vez, entre exclamações: “A eles cabe o encargo do testemunho da caridade especialmente para com os mais pobres, os que sofrem e os necessitados, e também assumir todo compromisso cristão orientado à construção de condições de uma paz e justiça cada vez maiores na convivência humana, de forma que se abram novas fronteiras ao Evangelho”.

É importante, com efeito, reforçar em que consiste ser cristão e mostrar as maneiras em que um cristão coerente pode hoje contribuir para a construção da sociedade.

Concretamente, ao longo destes séculos, os cristãos mostraram um amor preferencial para com os necessitados, como algo essencial à identidade cristã. Hoje, precisa-se redescobrir essa dimensão social do Evangelho.

Não seria cristão viver “como se”os necessitados não existissem: na prática, isso seria viver como se Deus não existisse. Ignorar os pobres e os famintos – tanto os famintos de pão como os famintos de espírito – seria ignorar a Cristo. Equivaleria a cair nas redes do secularismo materialista, num ateísmo prático cego e surdo diante da verdade e do amor. Por isso, é lógico que o Papa tenha se referido à necessidade e à urgência“de uma nova geração de católicos comprometidos com a política, que sejam coerentes com a fé professada, que tenham rigor moral, capacidade de juízo cultural, competência profissional e paixão pelo serviço ao bem comum”.

A responsabilidade pelo mundo é, como sugere a mesma palavra, uma resposta ao chamado que Deus dirige a todas as pessoas. Uma resposta que pede a coerência e a certeza do testemunho cristão.

AUTORIA – Ramiro Pellitero (do Instituto Superior de Ciências Religiosas da Universidade de Navarra)
TRADUÇÃO LIVRE – Ammá Maria Ângela de Melo Nicolleti
FONTE –www.es.catholic.net