A política sem ética não é política

Existe espaço para a ética na política da aldeia global? É possível ser honesto e político?

Pode-se ser católico e meter-se nesse mundo de acordos, pactos e interesses? Estas são as interrogações que enfocou, com força, o Jubileu dos parlamentares e governantes europeus.

Para responder a estas questões decisivas para a democracia, Zenit entrevistou um especialista em ética e vida pública, George Weigel. Este intelectual norte-americano, antes de se dedicar de corpo e alma a escrever seu último livro (a biografia mais completa sobre João Paulo II, "Testemunho da Esperança"), foi presidente do Ethics and Public Policy Center (http://eppc.org), nos Estados Unidos, um observatório privilegiado. Daqui, acompanhava as grandes questões éticas que o cenário internacional tem que enfrentar nestas ocasiões: direitos humanos, guerra justa, liberdade e capitalismo, etc. Temas que continua enfrentando nas colunas de autorizadas publicações como "Los Angeles Times", "First Things", "The Washington Quarterly", etc.

ZENIT – A POLÍTICA É A ARTE DO COMPROMISSO, DO ACORDO. É POSSÍVEL SER BOM CATÓLICO E BOM POLÍTICO AO MESMO TEMPO? NÃO SÃO DOIS TERMOS CONTRADITÓRIOS?

WEIGEL – Eu acredito que temos que voltar a uma definição mais antiga de política. Segundo Aristóteles, a política é a deliberação mútua sobre os deveres que rege nossa vida pública. Neste sentido, a política entendida em seu autentico significado tem uma essencial moral irrenunciável. A política não é algo mecânico.

A política é deliberação mútua sobre como temos que viver juntos, como comunidade civil. Segundo este conceito, não cabe dúvida de que os católicos sérios podem entrar na política. De fato, não somente é possível, mas é imperativo. É sumamente importante que haja pessoas que entendam que a política não é somente a arte do acordo. A política se move numa dimensão ética e esta é a contribuição que devem oferecer os cristãos à arena política hoje. É uma lei moral.

ZENIT – ISSO É TEORIA, PORÉM, É POSSÍVEL SER HONESTO E ÍNTEGRO NO MUNDO POLÍTICO ATUAL?

WEIGEL – Claro que sim. De fato, eu creio que o ambiente político atual, sumamente dominado por uma espécie de comercio ou de mentalidade publicitária, está desesperadamente aberto á política de convicções morais, e eu creio que, certamente, nos Estados Unidos, os cidadãos estão ansiosos por apoiar líderes políticos que não sejam simplesmente manipuladores da opinião pública, mas portadores de convicções morais sérias à vida publica.

ZENIT – SEGUNDO O SENHOR, QUAL É A CONTRIBUIÇÃO QUE PODEM OFERECER OS CATOLICOS À POLITICA? QUAL É SUA COLABORAÇÃO ESPECÍFICA COM RESPEITO AOS CRENTES DE OUTRAS CONFISSÕES, COMO PODEM SER OS JUDEUS, PROTESTANTES OU MUÇULMANOS?

WEIGEL – Eu diria que as pessoas que crêem na Bíblia, entre os quais se encontram os judeus, protestantes e católicos, oferecem uma compreensão da política, segundo a qual, a democracia não é uma máquina que caminha por si só. A democracia não é simplesmente um assunto de instituições. A democracia é uma questão de cultura política. Para que haja democracia que funcione bem, exige-se que exista uma massa crítica de cidadãos que tenham aprendido os hábitos intelectuais e afetivos que tornam possível o autogoverno. Estes hábitos da mente e do coração são, em poucas palavras, as virtudes. Deste modo, a visão da pessoa humana que surge da religião bíblica, a visão dos seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus, capazes de conhecer o bem e de escolher o bem, é um dom essencial que os crentes na Bíblia oferecem à vida política hoje.

A contribuição especial que podem oferecer os católicos à vida política nestes momentos é a doutrina social da Igreja, a expressão filosófica mais desenvolvida dessa noção bíblica de vida pública que gira em torno da dignidade humana, do homem, imagem de Deus, capaz de conhecer e escolher o bem.

A doutrina social da Igreja desenvolveu essa idéia bíblica de uma maneira particularmente completa e convincente. Esta é a contribuição que os católicos podem oferecer no debate atual.

ZENIT – UM PRESIDENTE DEVERIA REPRESENTAR AOS CIDADÃOS DE SEU PAÍS. NOS ESTADOS UNIDOS, EXISTE UMA GRANDE DIVERSIDADE DE RELIGIÕES. O SENHOR CRÊ QUE UM CATÓLICO PODERIA REPRESENTAR OS ESTADOSUNIDENSES SEM DEIXAR DE SER CATÓLICO?

WEIGEL – O trabalho de um presidente não consiste em refletir as crenças de 51% da população. A tarefa de um presidente consiste em guiar, e isto, em certas ocasiões, significa confrontar os cidadãos com duras verdades. Creio que um católico pode oferecer à política este compromisso por dizer a verdade.

ZENIT – TOMÁS MORO SE CONVERTEU EM PATRONO DOS POLÍTICOS. NÃO CRÊ O SENHOR QUE CONSTITUI UM MODELO IMPOSSÍVEL DE SEGUIR AOS POLÍTICOS DE HOJE?

WEIGEL – Não. Creio que é importante compreender que Tomás Moro morreu por essa verdade que faz com que um governo justo seja possível. Todos nós estamos chamados a ser testemunhas em razão do nosso batismo. Nem todos nos encontraremos em situações que fazem com que esse testemunho inclua a entrega de nossas vidas de maneira sangrenta, como o fez Tomás Moro. Pois bem, todos nós podemos imitar sua convicção, segundo a qual a verdade é aquilo sobre o qual gira o mundo e, por conseguinte, aquilo sobre o qual gira a vida pública e a política.

AUTORIA – George Weigel
TRADUÇÃO LIVRE – Ammá Maria Ângela de Melo nicolleti, NA
FONTE - http://es.catholic.net/imprimir