Os sinais e o rito da confirmação (CIC § 1293 A 1296)

No rito deste sacramento convém considerar o sinal da unção e aquilo que a unção designa e imprime: o selo espiritual. A unção, no simbolismo bíblico e antigo, é rica de significados: o óleo é sinal de abundância [Cf. Dt 11,14 etc.] e de alegria [Cf. Sl 23,5; 104,15] , ele purifica (unção antes e depois do banho) e torna ágil (unção dos atletas e dos lutadores), é sinal de cura, pois ameniza as contusões e as feridas [Cf. Is 1,6; Lc 10,34] , e faz irradiar beleza, saúde e força.

As unções com óleo, ao longo da Bíblia, tem referenciais muito peculiares e significativos. Na visão dos hebreus, a unção com óleo transmite força, e beleza além de ser um sinal de respeito, consagração, honra e alegria.

Em Isaías 61,3, lemos que: “a fim de dar-lhes um diadema em lugar de cinza e óleo da alegria em lugar de luto”. O profeta aqui está chamando a atenção para a alegria acentuada ao longo deste texto. É símbolo da alegria, pois faz resplandecer o semblante (Sl 103,15). Assim como derramar óleo sobre a cabeça de um hóspede é sinal de honra (Sl 23,5), se constitui uma infelicidade ser privado de qualquer unção (Dt 28,40; Mq 6,15).

Na cura dos doentes, o óleo era também utilizado. Em Isaías 1,6 temos uma boa referência: “desde a planta dos pés até a cabeça, não há um lugar são. Tudo são contusões, machucaduras e chagas vivas, que não foram espremidas, não foram atadas nem foram amolecidas com óleo.”

A epístola de Tiago também orienta os presbíteros a fazerem a unção com óleo nos enfermos em nome do Senhor (5,14). O bom samaritano tratou com óleo as feridas do homem que caiu nas mãos dos assaltantes (Lc 10,33- 34.

O óleo tem também o caráter de dar força, agilidade, sabor e conservação. Ele ainda simboliza riqueza, abundância, amizade, paz, aliança e sinal de resistência. Antes de entrar em campo os jogadores fazem massagens especiais nas pernas e no corpo para o aquecimento e assim terão mais resistência. O óleo é sinal de resistência perante o pecado. É também a nós, um convite a nos exercitarmos na graça de Deus e sermos vencedores.

CIC § 1294

Todos esses significados da unção com óleo voltam a encontrar-se na vida sacramental. A unção, antes do Batismo, com o óleo dos catecúmenos significa purificação e fortalecimento; a unção dos enfermos exprime a cura e o reconforto. A unção com o santo crisma depois do Batismo, na Confirmação e na Ordenação, é o sinal de uma consagração. Pela Confirmação, os cristãos, isto é, os que são ungidos, participam mais intensamente da missão de Jesus e da plenitude do Espírito Santo, de que Jesus é cumulado, a fim de que toda a vida deles exale “o bom odor de Cristo [Cf. 2Cor 2,15] ”

O óleo dos Catecúmenos concede a força do Espírito Santo aqueles que serão batizados para que possam ser lutadores de Deus, ao lado de Cristo, contra o Espírito do mal. Este óleo poderá ser abençoado pelo padre, antes de ser usado. Por motivos pastorais, a unção com esse óleo poderá ser omitido na celebração do Batismo ou antes da celebração do mesmo. O batizando é ungido com o óleo dos catecúmenos, no peito.

O óleo dos Enfermos que, em caso de necessidade poderá ser abençoado pelo padre, antes da unção do enfermo, é um sinal sensível utilizado pelo sacramento da Unção dos Enfermos, que traz o conforto e a força do Espírito Santo para o doente no momento de seu sofrimento. O doente é ungido na fronte e na palma das mãos.

O óleo servia para ungir os reis e os sacerdotes em sinal da escolha divina e da consagração ao serviço do Senhor. Veja 1 Sm 16,12s: "O Senhor disse a Samuel: 'Levanta-te e unge Davi; é ele!" Samuel tomou o vaso de óleo e ungiu Davi, na presença dos seus irmãos. O Espírito do Senhor precipitou-se sobre Davi desse dia em diante".

É sobre estes textos que se baseia o simbolismo do óleo, no sacramento da Crisma; a unção que este confere, significa uma especial efusão do Espírito Santo, para levar o cristão à idade madura em Cristo.

O Santo Crisma é um óleo perfumado utilizado nas unções consacratórias do sacramento do batismo, nele o batizado é ungido na fronte; na Confirmação é o símbolo principal da consagração, também na fronte; depois da Ordenação Episcopal, sobre a cabeça do novo bispo; depois da ordenação sacerdotal, na palma das mãos do néo-sacerdote. Também é usado em outros ritos consacratórios, como na dedicação de uma Igreja, na consagração de um altar, quando o Santo Crisma é espalhado sobre o altar e sobre as cruzes de consagração que são colocadas nas paredes laterais das igrejas dedicadas (consagradas). Em todos estes casos, o Santo Crisma recorda a vinda do Espírito Santo que penetra as pessoas como o óleo e impregna a cada um deles que o toca. Ele faz com que pessoas sejam ungidas com a unção real, sacerdotal e profética de Jesus Cristo.

As Bênçãos dos óleos são com finalidade sacramental, quer dizer, para uso no sacramento, devendo ser queimado logo em seguida. Não se benzem óleos pela rádio e nem mesmo nas missas para que as pessoas levem para as casas para ungir doentes, por exemplo.

Para Refletir:

"Assim como Jesus foi ungido pelo Espírito para o desempenho de messiânica, também o cristão, santificado pelo mistério da redenção, é crismado, isto é, ungido, para exercer a sua missão no mundo" (Pastoral dos sacramentos de iniciação Cristã – NCBB)

De que maneira o amigo ouvinte vem exercendo sua missão de cristão?

O mundo inteiro é a vinha do Senhor. Ele nos chama a trabalhar e nos oferece todas as condições.

"Não ha lugar para o ócio, uma vez que é muito o trabalho que a todos espera na vinha do Senhor. O proprietário insiste ainda mais no seu convite: 'Ide vós também para minha vinha'.

A voz do Senhor ressoa sem dúvida no íntimo do próprio ser de cada cristão, que, graças é fé e aos sacramentos da iniciação cristã, torna-se imagem de Jesus Cristo, insere-se na Igreja como seu membro vivo e é sujeito ativo da sua missão de salvação.” (João Paulo II - Vocação e missão dos leigos 3)

CIC § 1295

Por esta unção, o confirmando recebe “a marca”, o selo do Espírito Santo. O selo é o símbolo da pessoa [Cf. Gn 38,18;Ct 8,6] , sinal de sua autoridade [Cf. Gn 41,42] , de sua propriedade sobre um objeto [Cf. Dt 32,34] - assim, os soldados eram marcados com o selo de seu chefe, e os escravos, com o de seu proprietário; o selo autentica um ato jurídico [Cf. 1Rs 21,8] ou um documento [Cf. Jr 32,10] e o torna eventualmente secreto [Cf. Is 29,11] .

"Santo Agostinho chama a atenção para um costume de sua época: não somente o gado era marcado com o ferro de seu patrão, mas também o soldado era assinalado com o sinete do seu general e o escravo com a marca do proprietário. Ora, dizia Santo Agostinho, que quando o soldado e o escravo fogem, perdem todo o afeto ao seu senhor; são-lhe infiéis, mas guardam sempre o sinete do seu senhor; e, se voltam, voltam trazendo este sinete." (Escola Mater Ecclesiae, Curso de Liturgia por correspondência, pág. 42, Dom Estévão Bettencourt).

CIC § 1296

Cristo mesmo se declara marcado com o selo de seu Pai [Cf. Jo 6,27] . Também o cristão está marcado por um selo: “Aquele que nos fortalece convosco em Cristo e nos dá a unção é Deus, o qual nos marcou com um selo e colocou em nossos corações o penhor do Espírito” (2Cor 1,21-22; Cf Ef 1,13; 4,30). Este selo do Espírito Santo marca a pertença total a Cristo, o colocar-se a seu serviço, para sempre, mas também a promessa da proteção divina na grande provação escatológica [Cf. Ap 7,2-3; 9,4; Ez 9,4-6] .

"Aqui o Catecismo cita a passagem de 2Cor 1,22 em que São Paulo afirma que 'Deus nos marcou com um selo e colocou em nossos corações o penhor do Espírito.'

Em Ef 1,13 lemos: 'Fostes selados pelo Espírito Santo.' E em Ef 4,30 volta o Apóstolo: 'Não entriseçais o Espírito Santo de Deus, pelo qual fostes selados para o dia da redenção.'

Em todos estes textos há menção de selo, sinete impresso por Deus no cristão, ao mesmo tempo que lhe é concedido odom do Espírito Santo Procuremos o sentido exato destes textos.

O uso de selos ou sinetes era muito frequente entre os antigos para caracterizar um objeto ou para uma pessoa como propriedade de alguém. O sinete trazia a marca (figura, sigla, palavras) distintiva do respectivo proprietário. Nos cultos pagãos usavam-se selos portadores de figura ou de emblema da Divindade; indicavam especial relacionamento do homem portador de selo com a Divindade."

O texto deste parágrafo do Catecismo, citando a passagem de Ez 9,4 do Antigo Testamento, em que lemos que o Senhor mandou assinalar com um sinal especial (a letra tau, que tinha a forma de cruz) 'a testa dos homens que gemiam e choravam por causa de todas as abominações que se cometiam no meio de Jerusalém.' Esses não seriam atingidos pelo flagelo que havia se de desencadear sobre o Templo e Jerusalém. Além disto, a circuncisão era como que um selo, que marcava o israelita como membro do povo de Deus; ver Rm 4,11.

Aqui o Catecismo citando do Novo Testamento, os textos de Ap 7,2-8 e 9,4 referem-se ao selo de Deus gravado sobre a testa dos membros do povo de Deus ou daqueles que são propriedade do Altíssimo.

É sobre este pano de fundo que se hão de entender as referências do Apóstolo ao sinete.

Em Ef 1,13 e 4,30, o fiel cristão aparece marcado pelo Espírito Santo; torna-se assim posse de Deus e é preservado para 'o dia da Redenção' ou da consumação da história. Em 2Cor 1,21s o Apóstolo diz que os cristãos foram selados por Deus, que os fez sua propriedade e lhes deu o Espírito Santo derramado nos corações (cf. Rm 5,5) em penhor do cumprimento das promessas divinas. Em todo os três casos parece haver alusão ao Batismo, que era acompanhado de unção com óleo e que, além de conferir o Espírito Santo, consagrava o homem a Deus." (Escola Mater Ecclesiae, Curso de Liturgia por correspondência, pág. 41, Dom Estévão Bettencourt).

Para Refletir:

Prezado ouvinte, você não caminha isolado para Deus. A sua vida pessoal se desenrola num plano social vasto como o mundo: você é membro do povo de Deus. Todas as suas graças individuais, todos os seus esforços para viver a santidade, mergulham você na comunhão dos Santos e ordena você para o bem comum da Igreja inteira. Durante os seus anos da infância e adolescência, você recebe os benefícios da sociedade sem poder retribuir. Porém, quando você atinge a idade adulta, a plena maturidade, você deve colocar a sua força e todo o seu potencial a serviço do bem comum.

Diácono Antonio Carlos
Comunidade Católica Nova Aliança