Fonte: Valores – Escritório de Redação
Autor: Marco Aurélio Maurício, L.C.

Alguns dias atrás encontrei, no meio da bagunça do meu quarto, o livro de Tatiana Goritchéva, “Nós, soviéticos convertidos”. Ela relata o ambiente duro, sem valores culturais, religiosos e morais, da vida sob o domínio comunista na União Soviética, unido à necessidade de fingir constantemente.

Tatiana tinha uma amiga de quinze anos que preferiu se suicidar, porque já não era capaz de suportar o que via à sua volta. Antes de desaparecer deste mundo, deixou escrita esta frase: “Sou muito má”. Em seguida, Tatiana acrescenta: “Era uma pessoa totalmente pura que não só não suportava viver na mentira, mas que também não sabia mentir. Afogava-se, sabendo que não vivia como devia, e que deveria terminar escapando do vazio ambiental e descobrir a luz. Mas não encontrou outra saída”.

Tatiana se lamenta que a sua amiga não tivesse a oportunidade de conhecer o cristianismo como ela. Nunca ninguém lhe falou sobre a esperança de um Deus que pode levantar o caído e salvá-lo de qualquer situação. “Morreu destruída pela desesperança”, conclui.

O período do Advento é justamente essa oportunidade que a liturgia nos dá para celebrar a esperança. Advento é tempo de esperança e de conversão. Demos graças a Deus porque, nós sim, temos essa oportunidade de conhecer a esse Deus que pode levantar o caído e salvá-lo de qualquer situação.

Advento é tempo de espera porque revivemos a primeira e humilde vinda do Salvador, quando Deus se fez homem como nós. É também espera e súplica da última vinda de Cristo, como Salvador e Juiz Universal, que nos levará para o Seu Reino definitivo. A liturgia desse tempo nos convida constantemente à conversão, mediante a voz dos profetas, principalmente a de João Batista: “Convertei-vos, porque o reino dos Céus está próximo” (Mt 3,2).

É um tempo de esperança gozosa de que a salvação já realizada por Cristo (Rm 8,24-25) e as realidades da graça, já presentes no mundo, cheguem à maturidade e plenitude. Onde, o que é promessa se converterá em possessão; a fé, em visão e nós “seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é” (1Jo 3,2).

É um período de preparação para a vinda do Messias. Á Sua vinda, precedeu uma longa espera, mas Deus mantinha viva a esperança no povo de Israel mediante as profecias. O que realmente deixa a todos impressionados é o fato de que o Deus da glória se fez criança no seio de uma mulher virgem, pobre e humilde. A todos nos toca o coração quando vemos todas as dificuldades pelas quais teve que passar a Virgem Maria durante a sua gravidez. Emociona-nos ver que não havia lugar na hospedaria para José e Ela, que estava a ponto de dar a luz.

Há diversas tradições que nos ajudam a viver este período com maior fé e nos transmitem alguns valores.

A coroa de advento é uma delas. A um lado do altar se colocam quatro círios que cada domingo são acesos um por um até o dia de Natal. É uma memória das diversas etapas da história da salvação antes de Cristo e é o símbolo da luz profética que iluminava a noite da espera até o amanhecer do sol de justiça (Cf. Lc 1,78-79; Mal 3,20).

Em alguns lugares, se realizam procissões pelas ruas da cidade para anunciar o eminente nascimento do Menino Jesus ou para acompanhar o caminho de José e Maria procurando um lugar acolhedor para o Filho de Deus nascer.

A liturgia deste período celebra com destaque a figura da Virgem Maria. Nas leituras, se relembram algumas figuras femininas da Antiga Aliança, que eram prefigurações e profecias da missão da Virgem Maria. De Maria, exaltam a sua atitude de fé e humildade ao aceitar o plano de Deus, dedicam novenas, como a da Imaculada e a de Natal. A novena da Imaculada trata os mesmos temas do período do advento: a longa espera messiânica. Relembram as antigas profecias e as personagens simbólicas do Antigo Testamento.

É um tempo de esperança, porque, uma vez mais, a Sagrada Família vem tocar à porta do nosso coração pedindo um lugar para passar essa noite. Jesus não nos tira nada, nos dá tudo. Não tenhamos medo de viver essa aventura, porque é a aventura do amor. Aceita o desafio?

Vença o mal com o bem!