Os sacerdotes não salvarão o mundo

AUTORIA– Pe. José Fernando Juan[1]
TRADUÇÃO LIVRE– Ammá
FONTE–www.es.catholic.net

Os leigos consagrados, tão pouco salvarão o mundo. Nem os bispos, nem o Papa. Nem a legião de religiosas e consagrados que há espalhados pelo mundo, em infinidade de tarefas e carismas. Nem os que vivem em família, ou em comunidade, qualquer que seja o modo como se organizem. Tão pouco salvarão o mundo os que possuem grandes e magníficos colégios, hospitais onde assistem, fervorosamente, os doentes. Aqueles que trabalham, lutando pela justiça social, e aqueles que se recolhem em seus mosteiros e lugares de oração escondidos e silenciosos, também sabem que eles não salvarão a humanidade, a sociedade, o mundo. Os que estudam, os que dão a vida, os que ensinam, os que dão a comer, os que pregam, os que batizam, os que anunciam e denunciam, fazendo de suas vidas um sacrifício humilde e pequeno dentro de toda a história, no seu interior sabem que, porquanto pese a grandeza de seu desejo, não são eles que salvarão a humanidade.

Se alguém se arroga este poder e esta força dentro da Igreja, engana os homens. Qualquer um que fale diante do mundo como se os homens pudessem salvar-se a si mesmos, oferece uma promessa vazia e exige mais, muito mais, do que a humanidade possa dar-se a si mesma. A ferida é muito profunda. Pois bem, o homem não está só. E não tem porque permanecer fechado em si mesmo, querendo aquilo que não pode conseguir com suas forças e com sua inteligência e com sua vida. Pode escolher o caminho que o conduza à reconciliação e à paz que deseja, ao amor e à entrega. Pode entrar dentro da torrente que torna fértil e que dá frescor e esplendor. Pode situar-se no mundo como se não fosse "seu mundo", e, com humildade, saber que não é ele quem se salvará, quem se dará a paz, quem construirá o mundo feliz e juntos e bondoso que todos desejam e querem e sonham.

Quanto dano fazem aqueles que dividem e rompem a comunhão, a unidade! Quanta dor e sofrimento, com sua falta de misericórdia e inteligência, aqueles que pedem a outros mais do que podem dar e não compreendem e acolhem a debilidade e o pecado! Quanta mentira semeiam os que falseiam os argumentos e as palavras, e, algumas vezes, dizem que semeiam com Deus e outras sem Deus!

Os sacerdotes, insisto, não salvarão o mundo. Eles são administradores da graça, aproximam, com sua vida, as pessoas ao Senhor que salva. Pois bem, não estão ao serviço de qualquer senhor ou dono, senão do Senhor e Criador de tudo, e não de qualquer maneira. Deus os chama de amigos, pronuncia seu nome, os associa ao Seu mistério, os convida a compartilhar tudo o Ele é e tudo o que tem. Não são dignos do que fazem, senão dignificados! Eles são os primeiros a receber, E recebem muito: palavra, perdão, misericórdia, liberdade, amor, dignidade, serviço.

Ao menos, é assim que me entendo, assim compreendo o que Deus fez comigo. Não serei eu quem salve a ninguém. Ainda que queira, não o posso fazer. Eu não; Deus, sim, em Jesus Cristo. Poderei pedir perdão aos homens tantas vezes quantas forem necessárias pela debilidade da vida e a infidelidade que nela pode haver. Porém, não posso pedir perdão por não salvar a ninguém, porque isso eu não posso. Não sou o salvador do mundo. O Salvador tem um nome que começa com J, porém não é o meu. Não me confundo com Ele; Ele me associou a Si. Então, que grandeza a de Deus, que me permite colaborar nesta história da salvação, me permite colocar-me no curso da história ao modo de Cristo, e brindar a oportunidade concreta a todos os homens de conhecer o Senhor, de amá-lO escutando Sua palavra, de recebe-lO na Eucaristia e nos sacramentos!

Não existe para mim nada maior neste mundo, nem alegria maior, que aproximar e servir no encontro da humanidade com Cristo, o Senhor, que salva, que é o Reino, que é a Justiça, que é a Paz, que é a Resposta última às perguntas radicais do homem. Acolho com liberdade de espírito, também com dor e sofrimento, as críticas que desejam uma Igreja santa e perto do Senhor, servidora da humanidade e do Reino. Também as compartilho, mas as faço a mim mesmo. Têm razão os que afirmam que não somos perfeitos, ainda que queiramos sê-lo; que não fazemos todo bem, ainda que o desejemos; que não alcançaremos tudo sem deixar tudo, menos a Deus, o único necessário. Eu o sei. Todos sabem. É a "vox populi".

O que alguns desconhecem é o Mistério que inunda e penetra a Igreja, o Mistério que lhe dá vida e consistência, que a estrutura por dentro, que permite à Igreja escutar e amar, fazer-se humilde. O que alguns desconhecem é que a Igreja está primeiramente ao serviço de Deus, e que o mesmo Senhor a quer e Se serve dela. Ele se faz presente muito especialmente nela em Seu entregar-Se a Si mesmo. Esta é uma diferença grande, muito importante, que alguns, com suas palavras, desconhecem. Porém que eu celebro, na debilidade e imperfeição, e compartilho minha alegria com outros.