(Com base em: Carlo Maria MARTINI. El presbítero como comunicador.Madrid: PPC Editorial y distribuidora, 1996, 199 p.)
- Método:- Partiremos de alguns textos da Segunda Carta aos Coríntios: Paulo faz aí um exame de consciência sobre a sua forma de pregar a Palavra, perguntando-se quais são as atitudes fundamentais como pregador.
- Nós também queremos fazer um exame de consciência de nosso ministério de pregadores, perguntando-nos:
* O que ocorre em mim quando prego a Palavra? Quais são os sentimentos que se desencadeiam em mim quando prego: resistências, temores, bloqueios, alegrias...?* Como escuto a Palavra e como a prego aos outros?
- Analisaremos o ministério da Palavra em toda a sua amplitude: pregação, confissão, colóquio (orientação espiritual) e conselho.
- Analisaremos, seguindo a Paulo, quatro atitudes fundamentais do pregador cristão, a partir do testemunho de São Paulo na segunda Carta aos Coríntios: a segurança, o equilíbrio, o fogo e o coração. É importante dizer que estas quatro atitudes são realidades que se compenetram.
- Quem é o pregador?
- Santo agostinho (na “Catequese para principiantes”) fala do pregador como alguém que, tendo feito a experiência da Palavra como algo próprio (que lhe chega ao coração, sentindo-a dentro de si) vive o esforço e o drama, o risco e a aventura de comunicá-la aos outros (sentindo sempre a inadequação entre as duas coisas, como se as palavras fossem insuficientes para expressar a Palavra, como se fossem necessárias pausas para expressar essa inadequação).
* “Como podes ver, tampouco eu estou quase nunca estou contente com os meus sermões. Tenho toda a alma posta naquilo que estou gozando em meu interior, antes de começar a expô-lo em palavras; e se não o digo como o sinto, entristeço-me ao ver que minha língua não esteve à altura do meu coração. Queria que todos os que me escutassem entendessem o que eu entendo; mas isso não acontece, e me dou conta que é por culpa das minhas palavras. ... Portanto, às vezes é doloroso comprovar que nosso auditório não chega a compreender-nos, apesar de que tentemos, por assim dizer, colocar-nos no seu nível, abrindo espaço a duras penas entre as sílabas (luta pela busca das palavras adequadas, ... uso dos silêncios para que este diga o que ele não está conseguindo). ... O pensamento já não é o mesmo quando se expressa em palavras. Por isso é tão difícil falar; é mais cômodo calar. ... No entanto, é belo também sentir como em nosso interior flui a caridade, tanto mais forte quanto mais generosa foi nosso esforço de adaptar-nos aos demais. ... Conta também a boa consciência de haver buscado a salvação eterna, e não outra coisa, naqueles a quem procuramos nos adaptar”.
- São Paulo expressa a mesma coisa ao dizer “Ai de mim se não anunciar o Evangelho” (1Cor 9,16): ou seja, o pregador é alguém que sente seu ministério como uma obrigação, ainda que preferiria calar ao dar-se conta de que suas palavras são inadequadas.
- São Pedro fala do pregador como aquele que sente a Palavra como uma semente anunciada em sua própria vida e quer vê-la germinar na vida dos outros: “Pela obediência à verdade purificastes as vossas almas para praticardes um amor fraternal sem hipocrisia. Amai-vos uns aos outros ardorosamente e com coração puro. Fostes regenerados, não de uma semente corruptível, mas incorruptível, mediante a Palavra viva de Deus, a qual permanece para sempre. ... Ora, é esta a Palavra que vos foi anunciada no evangelho” (1Pd 1,22-25).
- Imagem oferecida por Jesus: um escriba que “é semelhante a um pai de família que do seu tesouro tira coisas, novas e velhas”. “Do seu tesouro”, ou seja, do seu interior (não daqui ou dali) tira coisas novas e velhas. O pregador é alguém que alcançou um certo grau de integração humana que lhe permite tirar de seu próprio tesouro coisas novas e velhas.
- Uma imagem ideal do pregador nos é oferecida por Estêvão, nos Atos dos Apóstolos: o pregador é aquele que tem dentro de si uma força incrível (é “cheio de graça e de poder”) e quando fala, de alguma forma se transfigura: “Intervieram então alguns da sinagoga chamada dos Libertos, dos cireneus e alexandrinos, dos da Cilícia e da Ásia, e puseram-se a discutir com Estêvão. Mas não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com o qual ele falava. ... Os membros do Sinédrio, com os olhos fixos nele, tiveram a impressão de ver em seu rosto o rosto de um anjo” (At 6,9-10.15).
- Ser pregador está intimamente vinculado com o esforço por tornar-se um homem espiritual, um cristão de verdade, um místico (Rahner). A Palavra que ele anuncia, se não brotar de seu interior como um tesouro, será uma palavra apagada, dita como obrigação e não com carisma. (MEU: Por isso, não se pode tratar o tema da pregação como assunto isolado; ele está essencialmente ligado à essência do ser verdadeiramente cristão).
- Quem está apto para este ministério?
- “Por isto, já que por misericórdia fomos revestidos de tal ministério, não perdemos a coragem. ... Mas, tendo o mesmo espírito de fé a respeito do qual está escrito: Acreditei, por isto falei, cremos também nós, e por isto falamos” (2Cor 4,1.13).