Sinal dos tempos

AUTORIA - José Antonio Pagola
TRADUÇÃO - Antonio Manuel Álvarez Pérez
FONTE – http://eclesalia.wordpress.com

Os evangelhos recolheram de diversas formas a chamada insistente de Jesus para vivermos despertos e vigilantes, muito atentos aos sinais dos tempos. No princípio, os primeiros cristãos deram muita importância a esta “vigilância” para estarem preparados ante a vinda eminente do Senhor. Mais tarde, tomou-se consciência de que viver com lucidez, atentos aos sinais de cada época, é imprescindível para nos mantermos fiéis a Jesus ao longo da história.

Assim recolhe o Vaticano II esta preocupação: “É dever permanente da Igreja perscrutar a fundo os sinais desta época e interpretá-los à luz do Evangelho, de forma que, acomodando-se a cada geração, possa responder às perenes interrogações da humanidade sobre o sentido da vida presente e futura…”.

Entre os sinais destes tempos, o Concílio assinala um fato doloroso: “Cresce de dia para dia o fenômeno de massas que, praticamente, se desentendem da religião”. Como estamos lendo este grave sinal? Somos conscientes do que está acontecendo? É suficiente atribuí-lo ao materialismo, a secularização ou o repúdio social a Deus? Não devemos escutar no interior da Igreja um chamado à conversão?

A maioria foi-se afastando silenciosamente, sem fazer qualquer ruído. Sempre estiveram mudos na Igreja. Ninguém lhes perguntou nada importante. Nunca pensaram que poderiam ter algo a dizer. Agora partem em silêncio. Que há no interior do seu silêncio? Quem os escuta? Sentiram-se alguma vez acolhidos, escutados e acompanhados nas nossas comunidades?

Muitos dos que se vão eram cristãos simples, habituados a cumprir por rotina os seus deveres religiosos. A religião que tinham recebido desmoronou-se. Não encontraram nela a força que necessitavam para enfrentarem os novos tempos. Que alimento receberam de nós? Onde poderão agora escutar o Evangelho? Onde poderão encontrar-se com Cristo?

Outros vão-se decepcionados. Cansados de escutar palavras que não tocam os seus corações nem respondem às suas interrogações. Abatidos ao descobrir o “escândalo permanente” da Igreja. Alguns continuam a procurar por tentativas. Quem lhes fará crível a Boa Nova de Jesus?

Bento XVI vem insistindo que o maior perigo para a Igreja não vem de fora, mas que está dentro dela mesma, no seu pecado e infidelidade. É o momento de reagir. A conversão da Igreja é possível, mas começa pela nossa conversão, a de cada um.