Tempo Pascal - Da morte para a vida

Se a Páscoa judaica é a celebração-memória da gesta histórica que supõe a libertação do povo do Antigo Testamento submetido ao poder dos egípcios, a Páscoa cristã é a celebração-memória de outro fato histórico:

A ressurreição de Cristo nos cristãos.

Considera-se "fato histórico" aquele que é constatável e verificável pelo universo das pessoas, por ter ocorrido num espaço/tempo determinado e com o homem como sujeito de tal acontecimento. Este é precisamente o caso da ressurreição: um fato constatável num espaço/tempo determinado já há mais de 2000 anos na vida de alguns primeiros homens e mulheres – os primeiros cristãos – aos quais o Crucificado mudou de tal forma a vida que chegaram, por tal causa, à evangelização valente desse kerygma (primeiro anúncio) pelo mundo então conhecido e, pelo mesmo, ao martírio (At 2, 14ss).

Assim, a ressurreição acontece e se verifica na transformação da vida - uma vida nova, segundo o apóstolo Paulo o repete tantas vezes (2 Cor 5, 17) – dos primeiros cristãos. Dito de outro modo, é a vida transformada e nova dos primeiros cristãos por causa do Crucificado, aquela que dá fé e testemunho histórico da presença viva de Cristo no meio dos cristãos, no meio de Sua Igreja, no meio do mundo.

Desta forma, a ressurreição de Cristo não é um mito literário, um conto de fadas, uma lenda ou um embuste metafísico. A ressurreição de Cristo, muito pelo contrário, é um fato histórico, tangível, inquestionável e verificável em cada homem e em cada mulher que, desde os primeiros dias da Igreja até hoje, transforma sua vida num encontro com o evangelho de Cristo e a proposta de homem novo que ele contém. A ressurreição de Cristo ocorreu e continua ocorrendo cada vez que um homem "renova a mente" (Rm 12, 2) e configura sua vida ao estilo de vida, aos princípios e aos valores vividos e pregados por Cristo no evangelho.

Tal renovação da mente, tal nova criteriologia, tal vida nova é a que faz com que possamos chamar a Deus PAI (Rm 5, 5; Gl 4, 6) e viver a mesma vida de Cristo em nós, até poder gritar como Paulo: "Já não vivo eu, é Cristo que viver em mim"(Gl 2, 20). Isto quer dizer: a vida dos filhos de Deus e irmãos de todos. De tal maneira, que alegres e confiados, podemos exclamar que "Já não somos escravos, mas filhos"(Gl 4, 7) e que para sermos livres Cristo nos libertou (Gl 4, 31). Por isso, também João mostra que "nisto sabemos que passamos da morte para a vida: se amarmos uns aos outros" (1 Jo 3, 14); e, ao contrário: se não formos capazes de nos reconhecermos filhos de Deus, se não formas capazes de amarmo-nos uns aos outros, se os frutos (Mt 7, 16) que mais aparecerem em nossa vida social não forem nem bons e nem abundantes, então Cristo não ressuscitou e "vã é nossa fé e vã também é nossa pregação"(1 Cor 15, 17).

Hoje, a ressurreição de Cristo tem que continuar sendo um fato histórico e uma celebração na história mediante a vida dos cristãos que tornam Cristo presente em cada espaço/tempo, em cada transitória e nova situação histórica da humanidade.

Dizendo de outra maneira: o que dá testemunho da ressurreição de Cristo, clara e abundantemente testemunhado pelos primeiros cristãos e sua vida comunitária (At 2, 42ss e 4, 32ss) é a vida fraterna dos que cumprem a vontade do Pai ensinada pelo Filho: que nos amemos uns aos outros (Jo 13, 14) como Deus mesmo nos ama.

Os relatos da tumba vazia contidos nos chamados "relatos das aparições" são, por sua parte, formosíssimas peças literárias para expressar a mais importante e fundamental confissão de fé dos cristãos: Cristo continua vivo na história, não está morto, ressuscitou (At 2, 32) sempre que haja homens e mulheres que se aventurem sem medo e valentemente (At 9, 28) a compartilhar o pão (Lc 24, 13ss) e a construir a paz pelo perdão (Jo 20, 19ss) na alegria e justiça dos filhos de Deus.

Celebrar a ressurreição implica, então, ressuscitar cada dia, ressuscitar sempre: voltar à conversão permanente para viver-em-Cristo, a vida nova dos filhos de Deus e irmãos de todos os homens porque, sem vida nova, confessar que Cristo ressuscitou não é crível e é motivo de escândalo.

Por isso, desejar e desejar-lhes a todos vocês uma felizes Páscoas da Ressurreição significa o desejo de uma vida nova em Cristo, segundo o Seu evangelho.

Presidente da Associação Católica de Líderes Latinos (CALL) dos Estados Unidos.

AUTORIA – Mario J. Paredes
TRADUÇÃO LIVRE – Amma Maria Ângela de Melo Nicolleti
FONTE – www.es.catholic.net