Diáconos casados, a serviço da Igreja

COLABORAÇÃO – José Ferreira (Tomate), da Missão Nova Aliança em São Paulo (Bairro do Limão)
FONTE - www.estadao.com.br

Arquidiocese de São Paulo amplia o número de ordenações

José Maria Mayrink

Foi o cardeal d. Paulo Evaristo Arns quem ordenou, em 1972, o primeiro diácono casado da Arquidiocese de São Paulo. O diaconato permanente havia sido instituído pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), que restaurou uma prática do tempo da Igreja de Jerusalém, na qual os apóstolos nomearam sete diáconos para cuidar dos pobres. O pioneirismo do arcebispo parou aí, porque Aury Azelio Brunetti, um ex-seminarista que quase chegou a ser padre, exerceu seu ministério sozinho durante 32 anos, até o cardeal d. Claudio Hummes ordenar novos candidatos, há nove anos.

D. Paulo nunca explicou por que não quis ter mais diáconos. "O Aury vale por muitos", escorregava o cardeal Arns, elogiando as qualidades do diácono pioneiro - jornalista, organista e escritor de livros religiosos. O diácono Aury, que se casou com Maria Aparecida, cantora do coral de sua igreja, cursou Teologia e defendeu, em latim, uma tese sobre o pecado original em Santo Tomás de Aquino, em Roma, antes de ser ordenado. Aos78 anos, continua na ativa e, entre outras atribuições, é professor da Escola Diaconal.

A história mudou com a iniciativa de d. Cláudio Hummes, que seu sucessor, d. Odilo Scherer, levou adiante. O diaconato permanente "agora já é uma realidade auspiciosa em nossa arquidiocese", escreveu o atual arcebispo na apresentação do Diretório do Ministério e da Vida dos Diáconos Permanentes, lançado em novembro.

São Paulo tem hoje 51 diáconos permanentes e outro tanto de candidatos se preparando para a ordenação. No Brasil, há 2,5 mil diáconos e 600 candidatos, segundo o presidente da Comissão Nacional de Diáconos, Odelcio Calligaris Gomes da Costa, de 62 anos, engenheiro, casado e pai de dois filhos, da Diocese de Piracicaba.

O diretório aprovado por d. Odilo apresenta orientações básicas para a formação e a vida dos diáconos na Arquidiocese de São Paulo. Pelas normas, podem ser ordenados homens casados que tenham completado 35 anos de idade e 10 anos de casamento, sempre com o consentimento por escrito da mulher. Viúvos e solteiros têm de aceitar o celibato.

O diácono permanente deve exercer seu ministério de maneira estável. Sua função tem três dimensões: a caridade, o anúncio da palavra de Deus e a liturgia - de preferência nessa escala, embora os diáconos costumem ser identificados mais por sua presença no altar, ao participar de celebrações litúrgicas. D. Odilo anuncia uma redefinição dos encargos dos diáconos permanentes, com prioridade para as áreas sociais.

"Os diáconos não precisam fazer trabalho paroquial, embora possam até assumir paróquias", disse o cardeal. Sua intenção é criar diaconias para que os diáconos permanentes se dediquem a pastorais em hospitais, cemitérios, escolas, universidades, presídios, prédios residenciais e favelas.

"Além de ser secretário da Escola Diaconal, eu participo de outras atividades e trato de processos matrimoniais, atendendo noivos que se preparam para o casamento", afirma Ailton Machado Mendes, de 48 anos, diácono da primeira turma formada por d. Cláudio Hummes. Corretor de seguros, ele é casado com uma militante do Opus Dei, Isabel Aparecida, com quem tem dois filhos.

Como ministro ordenado, o diácono pode administrar o batismo, fazer homilias nas missas, presidir casamentos e oficiar exéquias. Trabalha de graça, a não ser que se entregue, em tempo integral, ao serviço da Cúria. As paróquias reembolsam despesas feitas no exercício do ministério, como transporte e material. O diácono precisa ter uma profissão que, além de garantir o sustento de sua família, deve estar de acordo com os ensinamentos da moral cristã. Não pode fazer política partidária nem se candidatar a cargos públicos.

"Quando me reaproximei da Igreja, por influência de minha mulher, queria ter cacife para ser vereador, mas nunca fui candidato", revela o jornalista Pedro Fávaro, 56 anos, de Jundiaí. Ordenado em 1998, após três anos e meio de preparação, ele tem três filhos e trabalha como jornalista. "Não foi fácil fazer o curso, pois muitas vezes tive de assistir às aulas nas manhãs de sábado, depois de varar madrugadas no plantão do jornal." Ele faz seu apostolado com guardadores de carro e companheiros da área de comunicação.

Fávaro é convidado para fazer batizados e casamentos. "Uma colega que completava 32 anos me procurou para batizá-la", lembra. De outra vez, fez um casamento para unir um judeu com uma católica. "Dei a bênção em hebraico, lendo a transliteração do texto ao lado de um rabino."

É provável que São Paulo caminhe nessa mesma direção, mas não a ponto de igualar o número de diáconos ao de padres - cerca de 700. Além de não ter a intenção de nomear diáconos para todas as 300 paróquias da arquidiocese, já que pretende diversificar suas funções, d. Odilo Scherer observa que o diaconato é uma carreira mais breve que o sacerdócio, pois os candidatos são ordenados mais velhos, com pelo menos 35 anos.

Quem se ordena diácono permanente é aconselhado a continuar diácono para sempre. "A admissão de um diácono permanente ao presbiterato será sempre uma exceção", adverte o texto aprovado pelo arcebispo de São Paulo.

SAIBA MAIS

QUEM SÃO: Os diáconos são fiéis católicos ordenados pelo bispo e que possuem a função de servir as diversas comunidades católicas.

O QUE FAZEM: Auxiliam os bispos e os padres na realização das diversas tarefas pastorais. Constituem o terceiro nível na hierarquia da Igreja.

PRINCIPAIS TAREFAS: Podem celebrar casamentos, fazer pregações, presidir funerais ou auxiliar o padre na celebração da missa.