Fragilidade e instabilidade matrimonial

Presidi a celebração litúrgica do sacramento do matrimônio de vários casais.

Porém, ultimamente, o faço com mais temor que antes porque, cada vez mais são os que, em pouco tempo, se separam.

Há pouco, abençoei uns esposos que se casaram muito enamorados, com a ilusão de permanecerem unidos por toda a vida. Porém, em poucos meses, cada qual saiu de casa. Há jovens com poucos anos de casados que discutem e brigam por qualquer coisa, se desestabilizam e podem naufragar. O mesmo se passa com os que têm já vários anos de casados.

Em alguns casos, parece que não há esperança de reconciliação, principalmente quando a mulher é independente economicamente, por seu trabalho ou por herança paterna, e afirma que não tem porque suportar o marido, que não lhe faz falta e que prefere fazer sua vida à parte.

O mais grave é que alguns noivos vão para o altar pensando que, se não se entendem, têm o direito de cada um "cair fora" e "refazer" sua vida com outra parceira/outro parceiro. Parece-lhes mais normal não ligar-se para sempre a alguém, com quem, num determinado momento, já não se compreende. Não se dão conta de que, com esta atitude, lesam profundamente a validade do mesmo sacramento, pois este exige ser para toda a vida. Nestes casos, não há matrimônio sacramental diante de Deus e da Igreja. Não vale a cerimônia, ainda que tenha acontecido na presença de muitos sacerdotes, de um bispo, do papa. Não há sacramento.

Em alguns espaços há um grande cartaz com um casal muito enamorado. Diz que o marido parece muito terno, incapaz de quebrar um prato, porém quebrou o braço de sua esposa. A solução que é proposta é: "DENUNCIA-O!" Não aconselha a perdoar, a tentar o diálogo, a corrigir, a suportar-se mutuamente, senão a levar diante do juiz o esposo e colocá-lo na cadeia. Com a boa intenção de evitar o maltrato intrafamiliar e os abusos machistas do varão, pareceria que a única solução é as grades. Com conselhos como estes, prescinde-se da reconciliação; por isso, os matrimônios são destruídos em todo mundo.

JULGAR

Desde o princípio da humanidade, Deus instituiu o matrimônio como a união total entre homem e mulher (Gn 2, 18-24). Seu projeto é que a família seja estável; portanto, que não haja infidelidades nem divórcios (Mt 5, 27-28.31-32). Jesus é muito claro no que se refere ao matrimônio, segundo o evangelho de Mateus 19, 3-6. Os fariseus aludiram a que Moisés permitiu aos judeus o divórcio. A isso, Jesus respondeu categoricamente (ver Mt 19, 8-9). Portanto, quando um casal se compromete, principalmente diante de Deus e da Igreja, a permanecer unido, deve tentar cumprir essa promessa, a não ser que, moral ou fisicamente, seja impossível.

Na cerimônia católica, os noivos se dizem reciprocamente: "EU TE ACEITO COMO MEU (MINHA) ESPOSO (A), E PROMETO SER-TE FIEL NA ALEGRIA E NA TRISTEZA, NA SAÚDE E NA ENFERMIDADE, AMAR-TE E RESPEITAR-TE TODOS OS DIAS DA MINHA VIDA". E o sacerdote ratifica: "QUE O SENHOR CONFIRME ESTE CONSENIMENTO QUE MANIFESTARAM DIANTE DA IGREJA E CUMPRA EM VOCÊS A SUA BÊNÇÃO. O QUE DEUS UNIU O HOMEM NÃO SEPARE".

Este é o plano de Deus para o matrimônio: a unidade e a indissolubilidade. O plano do mundo é que cada um ande com quem quiser, e que não há porque suportar-se um ao outro, como se isso seja indigno e injusto. Deus quer que o marido ame e respeite a sua mulher e esta ao seu marido (Ef 5, 21-33). Quem ama, é compreensivo, perdoa, suporta, espera (1 Cor 13, 4-7). A solução diante dos problemas não é fazer logo uma denúncia penal, senão fortalecer o amor, que inclui o perdão, e ser capaz de carregar a cruz.

São Paulo dá uns critérios muito concretos para construir uma boa família: "UMA VEZ QUE DEUS OS ESCOLHEU, OS CONSAGROU A ELE E LHES DEU SEU AMOR, VOCÊS DEVEM SER COMPASSIVOS, MAGNÂNIMOS, HUMILDE, AFÁVEIS E PACIENTES..." (Cl 3, 12-15). Quanto nossos lares mudariam se fossem postos em prática estes simples conselhos! Não se destruiriam. Sem dúvida, a vida não está isenta de problemas e de conflitos entre os mesmos esposos. A Igreja, como mãe experiente em humanidade, aconselha o perdão mútuo e tratar de recompor a unidade. Porém, permite que, em casos graves, possa haver uma separação, porém não um novo matrimônio sacramental como está escrito no CDC 1153. Separação, sim; divórcio religioso não existe.

AGIR

São Paulo recomenda a esposas e esposos coisas importantíssimas, comportamentais na sua aos Colossenses 3, 18-19. A grosseria do esposo para com sua esposa e desta contra aquele é contrária ao plano de Deus. A violência intraconjugal é oposta ao modelo de família que Deus quer. Porém, a única denúncia diante dos juízes, muitas vezes, agrava a situação. Há que se aprender a perdoar-se e tolerar-se. Quem não é capaz de perdoar, não saberá conviver com ninguém, pois todos nós temos defeitos.

Para que os futuros esposos sejam generosos em tolerar, suportar e perdoar, há que se educar as crianças a se sacrificarem a partir da família. Sem disciplina, sem controle de si mesmo e sem renúncias generosas, os matrimônios sempre serão muito frágeis e instáveis.

AUTORIA – D. Felipe Arizmendi Esquivel,
Bispo de San Cristóbal de Las Casas
TRADUÇÃO LIVRE – Ammá Maria Ângela de Melo Nicolleti
FONTE – www.es.catholic.net