O Sentido De Eternidade


Eternidade é uma palavra que caiu em "desuso". Converteu-se numa espécie de tabu para o homem moderno. Crê-se que este pensamento possa afastar do compromisso histórico concreto para mudar o mundo, que é uma evasão, um "desperdiçar no céu os tesouros destinados à terra", dizia Hegel.

Porém, qual é o resultado? A vida, a dor humana, tudo se torna imensamente mais absurdo. Perdeu-se a medida. Se falta o contrapeso da eternidade, todo sofrimento, todo sacrifício parece absurdo, desproporcional, "desequilibra-nos", nos joga por terra.

São Paulo escreveu: A INSIGNIFICÂNCIA DE UMA TRIBULAÇÃO MOMENTÂNEA ACARRETA PARA NÓS UM VOLUME INCOMENSURÁVEL E ETERNO DE GLÓRIA. Em compração com a eternidade da glória, o peso da tribulação lhe parece insignificante (a ele, que sofreu tanto na vida!), precisamente porque é momentânea. Com efeito, acrescenta: AS COISAS VISÍVEIS SÃO PASSAGEIRAS, MAS AS INVISÍVEIS SÃO ETERNAS (2 Cor 4, 17-18).

O filósofo Miguel de Unamuno (que, além disso, era um pensador "leigo"), a um amigo que o reprovava, como se fosse orgulho ou presunção sua busca de eternidade, respondia com estas palavras: Não digo que mereçamos um além, nem que a lógica o demonstre; digo que necessitamos dele, quer o mereçamos ou não, simplesmente. Digo que o que passa não me satisfaz, que tenho sede de eternidade, e que sem ela tudo me é indiferente. Sem ela já não existe alegria de viver... É mais fácil afirmar: "Há que viver, há que se conformar com esta vida". E os que não se conformam?

Não é aquele que deseja a eternidade que mostra que não ama a vida, mas quem não a deseja, uma vez que se resigna tão facilmente com o pensamento de que a vida deva terminar.

Seria uma enorme ambição, não somente para a Igreja, como também para a sociedade, redescobrir o sentido de eternidade. Ajudaria a reencontrar o equilíbrio, a relativizar as coisas, a não cair no desespero diante das injustiças e da dor que existem no mundo, ainda que lutando contra elas. A viver menos freneticamente.

Na vida de cada pessoa, houve um momento em que se teve certa intuição de eternidade, ainda que de modo confuso... É preciso estarmos atentos a não buscar a experiência do futuro na droga, no sexo desenfreado e em outras coisas nas quais, afinal, fica somente desilusão e morte. TODO AQUELE QUE BEBER DESTA ÁGUA VOLTARÁ A TER SEDE, disse Jesus à samaritana. Há que se buscar o infinito no alto, não no baixo; acima da razão, não abaixo dela, nas ebriedades irracionais.

É claro que não basta saber que existe a eternidade; é preciso também saber o que fazer para alcançá-la. Perguntar-se, como o jovem rico do Evangelho: MESTRE, QUE DEVO FAZER PARA POSSUIR A VIDA ETERNA?

Leopardi, na poesia "O Infinito", fala de uma cerca que esconde da vista o último horizonte. Qual é para nós essa cerca, esse obstáculo que nos impede ver o último horizonte, o eterno? A samaritana, naquele dia, compreendeu que deveria mudar algo em sua vida se desejasse obter a "vida eterna", porque, em pouco tempo, a encontramos transformada numa evangelizadora que conta a todos, sem vergonha, quanto Jesus lhe havia dito.