"DEUS PAI NOS ARRANCOU DO PODER DAS TREVAS E NOS TRANSFERIU PARA O REINO DO SEU FILHO AMADO, NO QUAL TEMOS A REDENÇÃO, A REMISSÃO DOS PECADOS" (Cl 1,13-14)
Toda vez que nos aproximamos do Sacramento da Reconciliação com o desejo sincero de uma vida nova, com o propósito de fugir das ocasiões concretas de pecado, de conduzir-se por uma vida toda voltada para Jesus, realiza-se o que estamos vendo na figura acima: voltamos a estar de frente para o Senhor, olho no olho, coração no coração, com a plena confiança de que não nos faltará a Sua força para darmos as costas ao nosso passado perdoado e reconciliado com Deus e com os irmãos.
O pecado nos faz dar as costas para Jesus e a Sua Igreja. Pelo nosso arrependimento e propósito firme de não mais fazer isso, mas, sobretudo pela graça do Senhor, ficamos, novamente, de frente para Ele. É a isso que chamados de VIDA NOVA. Vida "zerada" pelo perdão e pela reconciliação nossa com Deus nosso Pai.
Deus, de fato, nos arranca do poder das trevas e nos estabelece no reino do Seu Filho muito amado, pela redenção, pela remissão dos pecados (Cl 1,13-14). Fomos "arrancados" das mãos daquele que nos mantinha na sua escravidão. E isso, pela força do amor extremo do Pai por nós que entregou Seu Filho amado à morte e morte de cruz. Por Suas chagas fomos curados, por Sua crucifixão, morte e ressurreição a nossa dívida foi totalmente paga. Operou-se em nós o grande dom da libertação: Fugimos vivos, como o pássaro foge da rede do caçador: a rede rompeu-se, e nós escapamos (Sl 124,7). E nós agora, libertados, tendo sido quebradas as algemas que nos prendiam, temos a VIDA NOVA em Jesus.
Mas, essa graça é para aqueles que aceitam e que, aos poucos, vão se deixando pregar na cruz com Cristo. É para aqueles que aceitam crucificar o que é próprio da vida carnal e buscam, cada vez mais, o que é próprio da vida do espírito. Eis aqui uma bela instrução de São Fulgêncio de Rupe: Pedimos e suplicamos que, pela mesma caridade com que Cristo aceitou ser crucificado por nós, também nós, pela graça do Espírito Santo, possamos considerar o mundo como crucificado, e a nós, crucificados para o mundo. Imitando a morte de nosso Senhor, como Cristo que morreu para o pecado, morreu uma vez por todas e porque vive, vive para Deus (cf. Rm 6,10-11), nós igualmente caminhemos com vida nova (Rm 6,4). E recebido o dom da caridade, morramos para o pecado e vivamos para Deus[1].
Enquanto nos confessamos, arrependidos e desejosos de mudar de vida, nosso pecado e a força da tentação vão sendo como que "pregados" no corpo de Jesus na cruz. Isto quer dizer que na Sua carne, no Seu corpo, nosso pecado "morreu" quando Jesus disse Suas últimas palavras: Tudo está consumado! Da parte de Jesus, tudo foi completamente perdoado e reconciliado. Não devemos mais nada porque nossa "conta" foi apagada.
Mas, a luta continua; agora, porém, em comunhão com Jesus! Sabemos que o nosso adversário, o diabo, já foi derrotado definitivamente, mas ele não se dá por vencido e sempre tenta nos reconduzir à antiga escravidão. Por isso, precisamos dar mais um passo significativo.
Trata-se de reconhecermos, intima e publicamente, a SUPREMACIA DE JESUS na nossa vida. Trata-se de desejarmos que, concretamente, o REINADO DE JESUS se estabeleça na nossa vida. Trata-se de nos deixar conduzir não mais pelas nossas paixões, mas pela única paixão que vale a pena: a paixão por fazer a vontade de Deus.
Trata-se de se DEIXAR POSSUIR por Jesus, de PROCLAMÁ-LO NOSSO ÚNICO DEUS E SENHOR com a boca, mas, sobretudo, com a vida. Trata-se de jogar fora, dispensar, rejeitar tudo o que usamos para entulhar o centro da nossa vida. Trata-se de desocupar o trono sobre o qual nos assentamos, querendo fazer com que a nossa vontade prevalecesse, e devolvermos para Deus o lugar que nunca foi nosso, mas que usurpamos e permitimos ser comandados pelos nossos prazeres. Trata-se, essa sim, da VERDADEIRA LIBERTAÇÃO: a do nosso "eu" que se sujeita às tentações e nos faz voltar as costas para Jesus e à Sua Igreja. Precisamos ser LIBERTADOS e ... LIBERADOS!
A VIDA NOVA que apenas está começando nos coloca na condição de crianças recém-nascidas. O parto não deixa de ser um ato de salvação. Salvação tanto para a mãe como para a criança. Doloroso, sim! Exigente e necessário, sim! Mas, momento SALVADOR. Só que, apenas nascer, não é tudo! É preciso que essa vida seja cuidada com o maior carinho. Cercada de muita delicadeza e providências porque a criança nessa condição ainda é muito frágil. Também no plano espiritual é assim: precisamos agora que Jesus garanta a nossa sobrevivência com qualidade de vida. É preciso que CONFIEMOS TODA A NOSSA FRAGILIDADE E NECESSIDADE aos Seus cuidados. Não podemos mais nos colocar nas mãos de outros senhores.
Como devemos agir? Voltamos sempre ao ponto de partida: deixando que a PALAVRA DE DEUS de cada dia vá fazendo o seu caminho na nossa vida, entregando-nos a ela.
Nesta semana, procuremos perceber o que é que ainda nos ESCRAVIZA, quais as realidades QUE AINDA NOS PRENDEM: dependências clínicas[2], programas de TV, ídolos artísticos, cargos, drogas, sexo, trabalhos profissionais e até pastorais, ganhos e lucros, consumo e moda... A lista é para ser completada! O Espírito Santo nos mostará.
Vamos juntos e ao longo desta semana rezar esta linda oração de LIBERTAÇÃO E PROCLAMAÇÃO DO SENHORIO DE JESUS:
Minhas alma, és um templo! Meu Deus, seja ela o Vosso reino! Sou e quero ser súdito(a) Vosso. Reinai, soberanamente, sobre mim! Se alguma vez me afastei de Vós, se contra Vós tive a desventura de me rebelar, foi porque, meu Deus, não Vos conhecia. Bondade infinita, não Vos vencem as pusilanimidades, nem as rebeliões de minha natureza! Só me pedis viva fé e vontade fiel dirigida pela fé e movida por Vosso amor. Creio, Senhor, quero crer! Curai minha incredulidade, triunfai de minhas resistências! Só quereis me dominar para me amardes. Submeter-me a Vós equivale a deixar-me amar por Vós, a dar-Vos a liberdade de realizar em mim a minha felicidade, ainda que contra a minha vontade. Disponde de mim, Senhor, rompei os obstáculos que se opõem, em mim, ao domínio, ao triunfo do Vosso amor!" (Dom Mercier).
APROFUNDANDO O ASSUNTO:
Procure ler, todos os dias, um trechinho deste texto, tentando sentir as moções de Deus. Percebendo-as, converse intimamente com Ele, dialogue com Ele! Aprofunde cada citação no texto acima, juntamente com a tarefa de cada dia! Seja um assíduo ouvinte do seu Salvador e Senhor pessoal! Faça sua a oração acima todos os dias desta semana!
Nesta semana, tenha comunhão DIÁRIA com a Palavra de Deus através das Leituras abaixo:
1º. DIA – Cl 1,9-23 – "Nele todas as coisas têm consistência"
2º. DIA – Cl 2,6-13 – "Deus anulou o documento que nos era contrário e o eliminou, cravando-o na cruz"
3º. DIA – Cl 3,5-17 – "Já vos despojastes do homem velho e da sua maneira de agir"
4º. DIA – Ef 2,1-10 – "Deus,..., deu-nos a vida em Cristo"
5º. DIA – Ef 4,17-24 – "Precisais renovar-vos pela transformação espiritual de vossa mente"
6º. DIA – Ef 4,25-32 – "Fostes marcados [com o Espírito Santo],... para o dia da redenção"
7º. DIA – Ef 5,6-20 – "Agora sois luz no Senhor"
CANTOS SUGERIDOS:
LOUVEMOS O SENHOR – nn. 507 - 535 – 615 – 818 - 822
LOUVAI O SENHOR – Músicas do Santini – nn. 38 – 42 – 46 – 195 – 224
[1] Do Tratado contra Fabiano.
[2] É preciso discernir entre uma dependência real e verdadeira de uma dependência falsa e produto da própria enganação.
