O memorial não é somente a lembrança dos acontecimentos do passado, mas a proclamação das maravilhas que Deus realizou por todos os homens [Cf. Ex 13,3] . A celebração litúrgica desses acontecimentos torna-os de certo modo presentes e atuais. É desta maneira que Israel entende sua libertação do Egito: toda vez que é celebrada a Páscoa, os acontecimentos do êxodo tornam-se presentes à memória dos crentes, para que estes conformem sua vida a eles.
"Para os judeus, a celebração da Páscoa era um memorial (zikkaron), que tornava presente ou atualizava a salvação do povo iniciada por ocasião da saída do Egito. Todos os anos, ao celebrarem a ceia de Páscoa, os judeus deviam recordar-se daquele acontecimento como se fosse presente ou como se o estivessem vivendo.
Esse 'sentir-se como se' não significa uma atitude meramente subjetiva (pessoal), mas é a resposta a uma atualização objetiva da obra da salvação. Consciente de que essa salvação não era um fato meramente acontecido no passado, mas ainda estava em andamento, os israelitas em cada ceia pascal olhavam também para o futuro, aspirando ao pleno cumprimento das promessas do Senhor.
A ideia de que o passado se torna presente (sem se repetir ou multiplicar) é confirmada ainda pelas palavras do Apóstolo Paulo colocada após a ordem do Senhor: "Todas as vezes que comeis deste pão e bebeis deste cálice, anunciais a morte do Senhor até que venha" (1Cor 11,26). Este 'anunciar' é a proclamação solene de um acontecimento já ocorrido, mas ainda atuante ou feito presente, segundo a mentalidade dos judeus.
Portanto, a renovação da Ceia do Senhor nos séculos cristãos não é mero símbolo evocativo do passado, mas vem a ser a atualização ou o tornar presente o sacrifício do Senhor oferecido na Sexta-Feira Santa sobre o Calvário." (Cf. Curso sobre os Sacramentos por correspondência, Escola Mater Ecclesiae, pág. 18 e 19, Dom Estévão Bettencourt).