TRADIÇÕES LITÚRGICAS E CATOLICIDADE DA IGREJA
Desde a primeira comunidade de Jerusalém até a parusia, o mesmo mistério pascal é celebrado, em todo lugar, pelas Igrejas de Deus fiéis à fé apostólica. O mistério celebrado na liturgia é um só, mas as formas de sua celebração são diversas.
"A celebração da Ceia do Senhor, desde os tempos dos Apóstolos, foi-se repetindo, de tal modo que se guardava sempre o mesmo conteúdo doutrinário, mas nem sempre as mesmas fórmulas e os mesmos gestos. É o que atestam os próprios textos do Novo Testamento (Mt, 26,26; Mc 14,22-25; Lc 22,19s; 1Cor 11,23-26). Observamos ai os vestígios de duas famílias litúrgicas, a de Mt e Mc (liturgia de Jerusalém) e a de Paulo e Lc (a de Antioquia, na Síria?)." (Curso de Liturgia por correspondência, pág. 68, Escola Mater Ecclesiae, Dom Estévão Bettencourt).
A única Igreja Católica, que comporta a Igreja do Oriente e do Ocidente, una na sua unidade de culto, tem um só e mesmo sacrifício da Missa, mas celebrada numa grande variedade de ritos orientais e latinos, todos eles sendo expressões diferentes do mesmo culto católico prestado a Deus.
CIC § 1201
A riqueza insondável do mistério de Cristo é tal que nenhuma liturgia é capaz de esgotar sua expressão. A história do surgimento e do desenvolvimento desses ritos atesta uma complementaridade surpreendente. Quando as Igrejas viveram essas tradições litúrgicas em comunhão na fé e nos sacramentos da fé, enriqueceram-se mutuamente e cresceram na fidelidade à tradição e à missão comum à Igreja toda [Cf. EN 63-64] .
Jesus instituiu a Eucaristia em meio à ceia pascal judaica, sua Última Ceia, apenas nos seus elementos essenciais. Os Apóstolos e seus sucessores, ou seja, a Igreja, com a autoridade que Jesus lhes conferiu, foram enriquecendo o que Jesus instituiu, com várias cerimônias e ritos.
A partir da primeira comunidade de Jerusalém, outras foram surgindo, tornando-se comunidades locais de outras cidades antigas, como Antioquia, conservando a unidade de fé e moral, segundo as Escrituras e as tradições de Jerusalém. Essas comunidades se desenvolveram e adotaram costumes próprios da região, nascendo assim os diversos ritos. Já no século IV, documentos nos revelam a existência de vários ritos.
A diversidade litúrgica, quando legítima, é fonte de enriquecimento e não prejudica a unidade da Igreja. Tendo admitido, e admitindo ainda hoje, uma diversidade de formas e de famílias litúrgicas, a Igreja considera que esta diversidade, longe de prejudicar a sua unidade, valoriza-a.
CIC § 1202
As diversas tradições litúrgicas surgiram justamente em razão da missão da Igreja. As Igrejas de uma mesma área geográfica e cultural acabaram celebrando o mistério de Cristo com expressões particulares tipificadas culturalmente: na tradição do “depósito da fé [2 Tm 1,14] ”, no simbolismo litúrgico, na organização da comunhão fraterna, na compreensão teológica dos mistérios e nos tipos de santidade. Assim, Cristo, luz e salvação de todos os povos, é manifestado pela vida litúrgica de uma Igreja ao povo e à cultura aos quais ela é enviada e nos quais está enraizada. A Igreja é católica: pode integrar em sua unidade, purificando-as, todas as verdadeiras riquezas das culturas [Cf. LG 23; UR 4] .
Aqui vemos que: "A criação e a evolução das formas da celebração cristã realizaram-se gradualmente e de acordo com as circunstâncias locais, nas grandes áreas culturais onde se espalhou a Boa Nova. Assim nasceram as diferentes famílias litúrgicas do ocidente e do oriente cristão. O seu rico patrimônio conserva fielmente a plenitude da tradição cristã. A Igreja do ocidente foi, por vezes, buscar no patrimônio das famílias litúrgicas do oriente elementos para a sua liturgia. A Igreja de Roma adotou na sua liturgia a língua viva do povo, inicialmente o grego, depois o latim e, como as outras Igrejas latinas, integrou ao seu culto momentos importantes da vida social do ocidente, imprimindo-lhes um significado cristão. Ao longo dos séculos, o rito romano soube integrar textos, cantos, gestos e ritos de diversa proveniência e adaptar-se as culturas locais em paises de missão, embora em certos períodos tenha prevalecido a preocupação da uniformidade litúrgica." (Congregação para o culto divino e a disciplina dos sacramentos a liturgia romana e a inculturação).
"A diversidade de fórmulas se entende também pelo fato de que nenhum dos convivas da Última Ceia de Jesus cuidou de gravar as palavras do Senhor; guardaram apenas o seu significado." (Curso de Liturgia por correspondência, pág. 68, Escola Mater Ecclesiae, Dom Estévão Bettencourt).
CIC § 1203
As tradições litúrgicas ou ritos atualmente em uso na Igreja são o rito latino (principalmente o rito romano, mas também os ritos de certas Igrejas locais como o rito ambrosiano, ou de certas ordens religiosas) e os ritos bizantinos, alexandrino ou copta, siríaco, armênio, maronita e caldeu. “Obedecendo fielmente à tradição, o sacrossanto Concílio declara que a santa mãe Igreja considera como iguais em direito e em dignidade todos os ritos legitimamente reconhecidos, e que no futuro quer conservá-los e favorecê-los de todas as formas [SC 4] .”
"Em cada rito há grupos de fiéis católicos que, embora sigam a sua liturgia oriental, estão em comunhão com a Santa Sé, reconhecendo a autoridade do Papa. Por isto as designações 'rito copta', 'rito bizantino'... podem ter duplo sentido, significando cristãos unidos à Santa Sé ou delas separados."
A liturgia cristã tomou, segundo as Igrejas, formas diversas, o principio da distinção é, pelo menos na origem, Geográfico. É, pois necessário partir das duas grandes divisões do mundo cristão antigo: o oriente e o ocidente. Entre as liturgias do oriente, aqui o Catecismo cita:
"Os maronitas são sírios católicos. Têm seu Patriarca próprio com algumas dioceses. Seguem a Liturgia atribuida a S. Tiago de Jerusalém, com várias adaptações à Liturgia romana."
"A Liturgia bizantina é a da antiga capital do Império ou de Constantinopla. É muito rica em orações, hinos, cerimônias. Os bizantinos separados de Roma tem seu calendário litúrgico próprio."
"No Ocidente e nos países evangelizados por missionários ocidentais prevalece a Liturgia romana. A ambrosiana e a mozarábica ainda são celebradas em regiões bem definidas. A Igreja deseja que se conservem essas famílias litúrgicas, pois exprimem a riqueza da oração cristã." (Curso de Liturgia por correspondência, pág. 71, 72 Escola Mater Ecclesiae, Dom Estévão Bettencourt).
"Em nossos dias, o Concilio Vaticano II lembrou que a Igreja 'fomenta e assume, enquanto bons, as capacidades, as riquezas e os costumes dos povos. Assumindo-os, purifica-os, revigora-os e eleva-os.(...) Trabalha de maneira tal que tudo o que de bom se encontra semeando no coração e na mente dos homens, ou nos próprios ritos e culturas dos povos, não só não desapareça, mas seja sanado, elevado e aperfeiçoado, para glória de Deus, confusão do demônio e felicidade do homem. Assim, a liturgia da Igreja não deve ser estrangeira em nenhum país, nenhum povo, para nenhuma pessoa e, ao mesmo tempo, terá de superar todo particularismo de raça ou de nação. Deve ser capaz de se exprimir em todas as culturas humanas, conservando sempre a sua identidade, na fidelidade a tradição recebida do Senhor". (Congregação para o culto divino e a disciplina dos sacramentos a liturgia romana e a inculturação).
Como ensina o Concilio: "A Igreja de Deus não deve impor na liturgia uma forma rígida e única para aquelas coisas que não dizem respeito à fé ou ao bem de toda a comunidade. Antes cultiva e Deus envolve os valores e os dotes de Espírito das várias nações e povos". (Sacrossanctum Concilium 37).
Para refletir:
Amigo(a) ouvinte o Catecismo da Igreja Católica traz em si uma evidente marca da Igreja Oriental através de citações de padres e escritores orientais e referências não apenas a liturgia Latina, mas também a liturgia Bizantina e Síria.
"O mérito disto deve ser atributo ao Concilio Vaticano II, que convida a Igreja a respirar 'com os dois pulmões'. O Oriente e o Ocidente, segundo a expressão do Papa João Paulo II" (L'Osservatore Romano de 12-09-93).
Louvai ao Senhor todas as nações, louvai-o todos os povos. Porque seu limite e a sua misericórdia para conosco é eterna a fidelidade do Senhor. (Sl 116).
Diácono Antonio Carlos
Comunidade Católica Nova Aliança