Quando celebrar? (CIC § 1163 a 1167)

O TEMPO LITÚRGICO

“A santa mãe Igreja julga seu dever celebrar com piedosa recordação, em certos dias fixos no decurso do ano, a obra salvífica de seu divino Esposo. Em cada semana, no dia que ela passou a chamar 'dia do Senhor', recorda a ressurreição do Senhor, celebrando-a uma vez por ano, juntamente com sua sagrada paixão, na solenidade máxima da Páscoa. E desdobra todo o mistério de Cristo durante o ciclo do ano (...) Recordando assim os mistérios da Redenção, franqueia aos fiéis as riquezas das virtudes e dos méritos de seu Senhor, de maneira a torná-los como que presentes o tempo todo, para que os fiéis entrem em contato com eles e sejam repletos da graça da salvação [SC 102] .”

O Catecismo aqui de maneira semelhante nos diz que: "A santa mãe Igreja considera seu dever celebrar com sagrada memória, em dias determinados, durante o ano, a obra da salvação de Jesus Cristo. A cada semana, no dia chamado domingo, realiza a memória da ressurreição do Senhor, que a cada ano, junto a sua paixão, celebra a Páscoa como a maior festa de todas as solenidades. Assim, durante o ano, distribui todo o mistério de Cristo, desde a encarnação e natividade até a Ascensão, o dia de Pentecostes e a nossa expectativa do retorno ao Senhor. Recordando desse modo os mistérios da redenção, a Igreja abre a todos nós as riquezas dos atos salvíficos e dos méritos de seu Senhor, tornando-os presentes em todos os tempos, para que possamos entrar em contato com os atos salvíficos e sermos repletos da graça da salvação." (cf. CIC 1163).

Prezado(a) ouvinte, você sabe porque a Igreja sempre celebra a obra da salvação de Jesus Cristo, se na santa missa estão contidos todos os mistérios da salvação?

A resposta é que também os acontecimentos anteriores da vida terrestre de Jesus, têm, cada um, o seu valor próprio de salvação.

Na Morte e Ressurreição de Jesus a nossa salvação e a glorificação do Pai aconteceram de modo perfeito, mas não exclusivo (privativo, restrito).

Jesus quis passar por todas as etapas da vida normal de um homem, para santificar cada uma delas: infância, adolescência, idade adulta.

Quando celebramos na liturgia cada etapa e cada fato da vida de Jesus, cada um deles nos comunica a sua graça própria: o seu Natal, a sua manifestação aos pastores e aos magos (Epifania), a sua apresentação no templo, a fuga para o Egito, o seu Batismo, a tentação no eserto, os milagres, as perseguições que sofreu, toda a sua Paixão e Morte, Ressurreição e Ascensão, tudo é celebrado no Ano Litúrgico porque cada acontecimento da vida de Jesus Cristo traz em si uma graça própria que, na celebração, é transmitida a nós para a nossa santificação. Além disto, o ciclo litúrgico anual tem um valor pedagógico: já que a nossa limitada capacidade humana não consegue penetrar de uma só vez toda a riqueza da obra de Cristo, esta é explicitada sucessivamente nas grandes datas da liturgia.

Por isso o Ano litúrgico se repete continuamente. As ações de Cristo são humanas e divinas (teândricas ), não se perdem e não se enfraquecem no tempo.

CIC § 1164

O povo de Deus, desde a lei mosaica, conheceu festas fixas a partir da páscoa para comemorar as ações admiráveis do Deus salvador, dar-lhe graças por elas, perpetuar-lhes a lembrança e ensinar às novas gerações a conformar sua conduta com elas. Na era da Igreja, situada entre a páscoa de Cristo, já realizada uma vez por todas, e a consumação dela no Reino de Deus, a liturgia celebrada em dias fixos está toda impregnada da novidade do mistério de Cristo.

O Catecismo nos fala que o cumprimento da Páscoa será consumado no Reino de Deus. Na última Ceia, o Senhor mesmo dirigiu o olhar de seus discípulos para a realização da Páscoa no Reino de Deus: “Eu vos digo: de agora em diante não beberei deste fruto da videira, até o dia em que, convosco, beberei o vinho novo no Reino do meu Pai” (Mt 26,29). Toda vez que a Igreja celebra a Eucaristia lembra-se desta promessa de Jesus, e seu olhar se volta para “Aquele que vem” (Ap 1,4).

Na força do Espírito, Jesus está e estará sempre conosco, de modo real e concreto, guiando e preservando a sua Igreja, até a consumação dos séculos. Um Dia meu irmão, que já não mais será um dos dias deste nosso tempo, o Senhor Morto e Ressuscitado se manifestará na glória do seu Espírito Santo, o mesmo Espírito que já habita em nós desde o nosso batismo, Ele levará todas as coisas à plenitude. Tendo transfigurado tudo no seu Espírito, Cristo entregará tudo ao Pai e o Reino de Deus será plenamente consumado e seremos, plenificados, estaremos eternamente junto ao Senhor, num mundo liberto e renovado; então Deus, o Pai, será tudo em todos, pelo Filho, na glória do Espírito. Eis meu irmão e irmã, a nossa fé, nossa esperança, nosso sonho, já começado no Dia da Páscoa!

CIC § 1165

Quando celebra o mistério de Cristo, há uma palavra que marca a oração da Igreja: hoje!, fazendo eco à oração que seu Senhor lhe ensinou "O pão nosso de cada dia dá-nos hoje" [Cf. Mt 6,11] e o apelo do Espírito Santo [Cf. Hb 3,7-4,S11; Sl 95,8] . Este “hoje” do Deus vivo em que o homem é chamado a entrar é “a hora”; da Páscoa de Jesus que atravessa e leva toda a história:

A vida estendeu-se sobre todos os seres, e todos ficam repletos de uma generosa luz; o Oriente dos orientes invadiu o universo, e aquele que era “antes da estrela da manhã” e antes dos astros, imortal e imenso, o grande (Segundo Santo Hipólito) Cristo brilha sobre todos os seres mais que o sol! É por isso que, para nós que cremos nele, se instaura um dia de luz, longo, eterno, que não se apaga: a páscoa mística [Pseudo-Hipólito Romano, In sanctum Pascha 1.1-2: Studia patristica mediolanensia 15.230-232 (PG 59.755)] .

Nós sabemos que Deus "passou" pelo Egito para fazer seu povo "passar"! Quando Deus "passou" pelo seu povo, o povo de Deus "passou" para uma nova vida, para a liberdade rumo à Terra Prometida. Nosso Deus é assim: passando, faz passar! Ora, Jesus celebrou a sua Páscoa, sua “passagem deste mundo para o Pai”! É esta, precisamente, a Páscoa de Jesus. Ele mesmo afirmou, certa vez: “Saí do Pai e vim ao mundo; agora deixo o mundo e volto ao Pai!” (Jo 16,28).

A Páscoa de Jesus é um ato de amor total e extremo por nós... é para nossa salvação que Jesus fez sua Páscoa. Fez sua "Passagem" para que também nós façamos a nossa. Ao morrer e ressuscitar, Jesus nos deu o seu Espírito Santo, no qual ele mesmo fora ressuscitado, de modo que a "passagem" de Jesus para o Pai nos abrisse o caminho e pudéssemos "passar" também para o Pai: “Vou preparar-vos um lugar, e quando eu me for e vos tiver preparado um lugar, virei novamente e vos levarei comigo, a fim de que onde eu estiver, estejais vós também. Eu sou o Caminho!” (Jo 14,2.6).

Tendo recebido no Batismo o mesmo Espírito Santo no qual Jesus se entregou ao Pai (cf. Hb 9,14) e no qual o Pai ressuscitou Jesus (cf. Rm 1,4), nós participamos na nossa vida, em cada pequena dor, em cada decepção, em cada tristeza, em cada morte, da morte de Cristo; vamos sofrendo com ele, morrendo com ele... e, com ele, caminhamos para a ressurreição definitiva.

Este processo de morte e ressurreição com Cristo, este "fazer-se nossa páscoa" da Páscoa de Cristo em nós, chega ao ponto mais intenso, nesta vida, em cada Eucaristia, quando, fazendo o memorial da morte e ressurreição do Senhor, participamos do seu verdadeiro e real Corpo e Sangue, isto é, de todo o seu ser, morto e ressuscitado para nossa salvação: “Minha carne é verdadeira comida e meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia!” (Jo 6,55.54).

Esta Páscoa sagrada do Senhor e nossa, a Igreja celebra a cada Domingo e até a cada dia na Eucaristia. Eis a nossa fé, nossa certeza, nossa esperança, nosso sonho... já começado no Dia da Páscoa! Pela Páscoa, e somente pela Páscoa, somos cristãos! A Ressurreição não é uma ilusão, não é uma quimera; é uma estupenda realidade: "Eu sou a Ressurreição! Quem crê em mim, ainda que morra, viverá!" (Jo 11,25).

O DIA DO SENHOR

 

CIC § 1166

“Devido à tradição apostólica que tem origem no próprio dia da ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o mistério pascal a cada oitavo dia, no dia chamado com razão o dia do Senhor ou domingo [SC 106] . “ O dia da ressurreição de Cristo é ao mesmo tempo “o primeiro dia da semana”, memorial do primeiro dia da criação, e o “oitavo dia”, em que Cristo, depois de seu “repouso” do grande sábado, inaugura o dia “que o Senhor fez”, o “dia que não conhece ocaso [Liturgia bizantina] ”. A “Ceia do Senhor” é seu centro, pois é aqui que toda a comunidade dos fiéis se encontra com o Senhor ressuscitado, que os convida a seu banquete [Cf. Jo 21,12; Lc 24,30] :

O dia do Senhor, o dia da ressurreição, o dia dos cristãos, é o nosso dia. É por isso que ele se chama dia do Senhor: pois foi nesse dia que o Senhor subiu vitorioso para junto do Pai. Se os pagãos o denominam dia do sol, também nós o confessamos de bom grado: pois hoje levantou-se a luz do mundo, hoje apareceu o sol de justiça cujos raios trazem a salvação [S. Jerônimo, In die dominica Paschae homilia: CCL 78,550,52] .

Para os católicos, o domingo tornou-se o primeiro de todos os dias, a primeira de todas as festas, o dia do Senhor. Foi graças à Ressurreição do Senhor que o domingo foi estabelecido como dia privilegiado, como dia da Reconciliação.

Apesar disso, há quem critique fortemente a Igreja Católica por ter “mudado” o preceito bíblico do descanso sabático: ao tomar a liberdade de converter o domingo no Dia dos dias, no Dia principal, estaria “substituindo o ensinamento divino por preceitos humanos”. Será verdade?

Para responder a essa crítica, repassemos rapidamente o Gênesis para podermos entender o significado do sábado: "Deus concluiu toda a obra que tinha feito; e no sétimo dia repousou de toda a obra que fizera. Deus abençoou o sétimo dia e o santificou, pois nesse dia Deus repousou de toda a obra da criação." (Gn 2, 2-3). Mais tarde, no Monte Sinai, esse dia voltou a ser declarado Dia Santo e dia de descanso, pois devia ser um dia destinado a recordar a Aliança, a antiga Aliança de Deus com o seu povo: "Lembra-te de santificar o dia de sábado. Trabalharás durante seis dias, e farás toda a tua obra. Mas no sétimo dia, que é um dia de repouso em honra do Senhor teu Deus, não farás trabalho algum." (Ex 20, 8-10).

Os elementos que podemos extrair do relato da criação na Sagrada Escritura são, pois, os seguintes: a) É o último dia da Criação, um dia santo e santificado por Deus. O dia do descanso é “abençoado” e “consagrado” por Deus, ou seja, separado dos outros dias para ser dentre todos o dia do Senhor. É um dia para se ocupar das coisas santas, não das profanas. Trabalhar seria, para o judeu, “profanar” o dia santo. b) É um dia de libertação. O sábado é estabelecido como sinal de libertação no Monte Sinai (cf. Deut 5, 15), pois Javé quer que o seu Povo comemore nesse dia a sua libertação do Egito pelo poder divino. c) É um dia consagrado a Javé. O Senhor do sábado é Javé: os judeus o chamavam o dia de Javé, o dia consagrado ao Senhor (cf. Ex 16, 23-25).

Depois disto, alguém ainda poderá perguntar se há oposição entre o que se diz no Antigo Testamento e o domingo católico? Todos os elementos que acabamos de ver encontram a sua plenitude na vinda do Senhor Jesus. Seja-me permitido uma analogia, tendo presentes as evidentes limitações de toda a comparação entre as coisas divinas e as humanas: o sábado é como uma televisão em preto e branco, na qual se via corretamente a imagem, o significado divino; já o domingo é como uma televisão a cores, em que vemos a mesma imagem, mas de maneira mais plena e com muito mais detalhes.

O domingo, portanto, mais do que uma “substituição” do sábado, é o seu cumprimento perfeito e a sua plena realização no plano da História da Salvação, cujo cume se encontra em Cristo. “Aquilo que Deus realizou na Criação e o que fez pelo seu povo no Êxodo, encontrou na Morte e Ressurreição de Cristo o seu cumprimento . Em Cristo realiza-se plenamente o sentido 'espiritual' do sábado." (Papa João Paulo II, Carta Apostólica Dies Domini).

Domingo é um novo dia. Com Cristo, inaugura-se um tempo novo e definitivo. Ele é o Alfa e o Ômega, a primeira e a última letras do alfabeto grego, assim como o domingo é o primeiro dia da semana e o último da Criação. A Sagrada Escritura chama-lhe, e a Igreja o proclama, dia do Senhor (cf. Ap 1, 8.10) e anuncia a nova Criação. E qual é? A nova Criação inicia-se com a Ressurreição de Cristo, primogênito dentre os mortos, princípio do novo mundo redimido no seu Sangue (cf. Col 1,18). (cf. Link: http://www.aciprensa.com).

CIC § 1167

O domingo é o dia por excelência da assembléia litúrgica, em que os fiéis se reúnem “para, ouvindo a Palavra de Deus e participando da Eucaristia, lembrarem-se da paixão, ressurreição e glória do Senhor Jesus, e darem graças a Deus que os 'regenerou para a viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos [SC 106] ”

Quando meditamos, ó Cristo, as maravilhas que foram operadas neste dia de domingo de vossa santa ressurreição, dizemos: Bendito é o dia do domingo, pois foi nele que se deu o começo da criação (...) a salvação do mundo (...) a renovação do gênero humano.(...) E nele que o céu e a terra rejubilaram e que o universo inteiro foi repleto de luz. Bendito é o dia do domingo, pois nele foram abertas as portas do paraíso para que Adão e todos os banidos entrem nele sem medo [Fanqîth, Ofício siro-antioqueno, vol. 6, 1ª parte do verão, p. 193 b.]

Meu irmão e irmã, toda a nossa vida pertence a Deus; por isso devemos dedicar-lhe de modo especial um dia da semana.

Nos domingos reunimo-nos para a celebração da Santíssima Eucaristia. Nesse dia todos devem congregar-se para ouvir a Boa Nova de Jesus Cristo, participar devotamente da celebração da santa missa e, se possível, receber o corpo do Senhor. A missa dominical é o ponto culminante da semana. A paróquia e cada um dos paroquianos apresentam a Deus por Jesus Cristo os seus atos de glorificação e recebem graça, alegria e força para sua vida de cada dia. Aos domingos ouvimos a pregação para aprofundarmos cada vez mais o conhecimento de nossa fé e vivermos de acordo com ela. Jesus disse: "Quem é de Deus ouve as Palavras de Deus" (Jo 8,47).

A festa da Páscoa cristã é celebrada pelos católicos com imensa alegria porque nós, nos dias da Páscoa, mais do que em outras épocas, sentimos a força do renascimento da Ressurreição de Cristo, cuja força destitui o domínio das trevas, libertou as almas do inferno, abriu as portas para o Paraíso, venceu os laços da morte, derramou vida e luz nas nossas almas. É admirável ainda, que a alegria da Páscoa se dissemina para uma quantidade tão grande de pessoas, não apenas nos que crêem profundamente mas também naqueles mais afastados de Deus. Na Páscoa o mundo todo, se alegra pela vitória da vida perante a morte.

Para refletir:

Amigo(a) ouvinte, a Igreja nos diz, no seu primeiro mandamento: "ouvir missa inteira nos domingos e festas de guarda". Só motivos graves podem dispensar desse preceito.

A missa dominical é para o amigo(a) ouvinte a hora principal da semana?

O domingo é o principal dia de festa, pois cada domingo é uma Páscoa.

Quando Deus mandou no monte sinal que se santificasse o 7º dia, prescreveu o descanso semanal, o qual faz bem à alma e ao corpo. A semana tem 168 horas, procure reservar ao menos uma hora para o serviço de Deus, para um contato maior com o Senhor.

Rezemos a Deus todo poderoso e cheio de misericórdia, que nenhuma atividade deste mundo nos impeça de correr ao encontro do Seu Filho, mas, movidos pela Sua sabedoria, participemos da plenitude de sua vida. (Oração 2º domingo do advento).

Diácono Antonio Carlos
Comunidade Católica Nova Aliança