As santas imagens (CIC § 1159 a 1162)

A imagem sacra, o ícone litúrgico, representa principalmente Cristo. Ela não pode representar o Deus invisível e incompreensível; é a encarnação do Filho de Deus que inaugurou uma nova “economia” das imagens:

Antigamente Deus, que não tem nem corpo nem aparência, não podia em absoluto ser representado por uma imagem. Mas agora que se mostrou na carne e viveu com os homens posso fazer uma imagem daquilo que vi de Deus. (...) Com o rosto descoberto, contemplamos a glória do Senhor [S. João Damasceno, Imag. 1,16: PG 96,1245A] .

As imagens sacras nos apontam para uma realidade desejada pelo nosso coração a qual é a nossa comunhão com Deus, nos remete a uma leitura da ação de Deus na vida daquelas pessoas que deixaram e deixam se envolver pela ação do seu amor misericordioso.

Pelo mistério da Encarnação, sabemos que Deus quis dirigir-se aos homens por meio da figura humana de Jesus Cristo. Este, por sua vez, quis ilustrar as realidades invisíveis através de imagens, inspiradas pelas coisas visíveis. Assim, Ele mesmo utilizou parábolas e alegorias que se referiam aos lírios do campo, à figueira, aos pássaros do céu, à mulher que perdeu a sua moeda, ao filho pródigo e ao bom pastor. Olhando a imagem do bom pastor, os cristãos não adoravam um pastor, mas pensavam na ternura de Deus que, em Jesus, busca a ovelha perdida. Representar algo por imagem ou símbolo era comum na igreja primitiva, sobretudo em tempos de perseguição. Por muitos tempos as pinturas dos santos e de cenas bíblicas nas igrejas foram o único livro que os cristãos mais simples puderam ler e entender.

Doravante prevaleceria a pedagogia divina exercitada na Encarnação, que levava os homens a passar das coisas visíveis ao amor pelas invisíveis. A meditação acerca das fases da vida de Jesus Cristo e a representação artística das mesmas tornaram-se recursos através dos quais, o povo fiel procurou se aproximar do Filho de Deus.

Devemos reconhecer nas imagens a presença de Deus e o seu significado para a nossa fé, pois elas são um instrumento educativo que nos ajuda a compreender o mistério de Deus em nossa vida e na vida da comunidade. Nós católicos veneramos aquele que é representado pela imagem, e adoramos a Deus. A imagem de Cristo é o ícone por excelência.

CIC § 1160

A iconografia cristã transcreve pela imagem a mensagem evangélica que a Sagrada Escritura transmite pela palavra. Imagem e palavra iluminam-se mutuamente:

Para proferir sucintamente nossa profissão de fé, conservamos todas as tradições da Igreja, escritas ou não-escritas, que nos têm sido transmitidas sem alteração. Uma delas é a representação pictórica das imagens, que concorda com a pregação da história evangélica, crendo que, de verdade e não na aparência, o Verbo de Deus se fez homem, o que é também útil e proveitoso, pois as coisas que se iluminam mutuamente têm sem dúvida um significado recíproco [II conc. de Nicéia, em 787 Terminus: COD p. 135] .

O Catecismo nesse texto nos mostra que: "A iconografia cristã transcreve, pela imagem, a mensagem cristã que a Sagrada Escritura transmite pela palavra."

Amigo(a) ouvinte, nem sempre, porém, esta verdade é vivida no alcance do que aqui se afirma. É necessário, por isso, que se dê sobretudo aos fiéis mais simples uma catequese mais objetiva acerca das imagens, com extensão ao culto dos santos. Na verdade, "imagem e palavra iluminam-se mutuamente." O ícone litúrgico representa a glória de Cristo, que se manifesta nos santos. Não tanto, como se vê, o lado subjetivo do eleito de Deus. O santo da imagem deveria nos levar muito mais a Cristo do que a ele mesmo. Este é, sobretudo, o lado objetivo do culto aos santos. A contemplação, pois, dos ícones santos deve associar-se à meditação da palavra bíblica e ao canto dos hinos litúrgicos, para que o mistério celebrado se grave na memória do coração e se exprima em seguida na vida nova em Cristo, a que são chamados os fiéis.

O argumento mais forte, em consonância com o que foi dito a pouco, é que a memória dos santos, que a liturgia celebra ao longo do ano litúrgico, no chamado "Santoral" ou "Próprio dos Santos", é, antes, fruto do Mistério Pascal de Cristo, e não uma liturgia como que paralela, acentuando tantas vidas de santidade. A santidade dos santos é a santidade de Cristo, como fruto copioso de seu Mistério Pascal. Em outras palavras, é a santidade divina sendo participada pelos seguidores do Senhor, na vida de bem-aventuranças.

Prezado(a) ouvinte, uma pergunta: "Será licito aos cristãos fazer imagens que lhes lembram o Senhor Jesus e seus Santos?

Examinemos os textos bíblicos. O livro do Êxodo (20,4) proíbe aos israelitas a confecção de imagens. Por quê? Porque poderiam ser ocasião a que o povo de Israel as adorasse, como faziam os povos vizinhos dados à idolatria. Os israelitas tendiam, sim, a imitar os gestos religiosos dos povos pagãos.

Verifica-se, porém, que a proibição de fazer imagens não era algo de absoluto. Em certos casos, o Senhor mesmo mandou confeccionar imagens para sustentar a piedade de Israel; vejamos: Êxodo 25,17-22: Javé mandou Moisés colocar dois querubins de ouro sobre o propiciatório da arca; era pelo propiciatório assim configurado que Javé falava ao seu povo. Por isto a Bíblia costuma dizer que 'Javé está assentado sobre os querubins' (cf. 1 Sm 4,4; 2 Sm 6,2; 2rs 10,15; Sl 79,2; 98,1). 1Rs 6,23-28: Menciona os querubins postos juntos à arca da aliança no templo de Salomão; 1Rs 6,29s: As paredes do templo de Salomão foram revestidas de imagens de querubins; Nm 21,4-9: O Senhor Deus mandou confeccionar a serpente de bronze para curar o povo mordido por serpentes; 1Rs 1,23-26: o mar de bronze colocado à entrada do Palácio de Salomão era sustentado por doze bois de metal; 1Rs 1,28s: Havia entre os ornamentos do Palácio de Salomão imagens de leões, touros e querubins.

Os próprios judeus compreenderam que a proibição de fazer imagens era condicionada por circunstâncias transitórias, de modo que aos poucos foram introduzindo o uso de imagens nas suas sinagogas: pensemos na famosa sinagoga na babilônia, na qual estavam representados Moisés diante da sarça ardente, o sacrifício de Abraão e a saída do Egito.

No Novo Testamento pelo mistério da encarnação sabemos que Deus quis dirigir-se aos homens mediante a figura humana do Messias. A cultura dos povos evoluiu, tornando menos sedutora a pratica da idolatria. Isto tudo fez que os cristãos compreendessem que a proibição de fazer imagens já tinha cumprido seu papel junto ao povo de Israel; doravante prevaleceria a pedagogia divina exercida na encarnação, que levava os homens a passar das coisas visíveis às invisíveis. Em conseqüência, os antigos cemitérios cristãos (catacumbas) apresentaram diversas imagens: Noé salvo das águas, Daniel na cova dos leões, os peixes restantes da multiplicação, o peixe (que simbolizava o Cristo). Vemos, através da arte, a expressão da fé e da piedade do povo, bem como um meio de catequese. Nas Igrejas, as imagens tornaram-se a bíblia dos iletrados, dos simples e das crianças" . (cf. 15 questões de fé, Dom Estêvão Bettencourt, OBS)

Para refletir :

Amigo(a) ouvinte procure ter bem presente esta verdade: Deus proibiu "deuses" e suas imagens, assim como seu culto. As imagens de Cristo nos fazem constantemente lembrar de nosso Mestre e Salvador. Deus não proibiu imagens de pessoas que não são deuses ou esculturas em geral.

Procure no Evangelho de (Jo 3,14-15) e veja como Jesus se compara a imagem da serpente de bronze que Deus ordenou a Moisés que fizesse. Jesus quer dizer: "Assim como os Israelitas, mordidos pelas serpentes venenosas, ficavam curados, quando olhavam confiantes para a serpente de bronze, assim também todo aquele que acreditar em Jesus, reconhecendo-o como Filho de Deus e Salvador, terá a vida eterna".

O autor sagrado nos ensina em (Cl 1,12-17): "Demos graças a Deus Pai: que nos chama a partilhar, na claridade de sua luz, os privilégios dos Santos. Arrancando-nos do poder das trevas, para nos colocar no Reino de seu Filho bem-amado, em quem encontramos a libertação e o perdão dos pecados. Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda criatura: é nele que tudo foi criado no céu e sobre a terra. É por Ele e para Ele que tudo foi criado, o visível e o invisível: Ele existe antes de toda criatura e tudo nele subsiste." Agora diga comigo: Glória a vós, primogênito dentre os mortos!"

CIC § 1161

Todos os sinais da celebração litúrgica são relativos a Cristo: são-no também as imagens sacras da santa mãe de Deus e dos santos. Significam o Cristo que é glorificado neles. Manifestam “a nuvem de testemunhas” (Hb 12,1) que continuam a participar da salvação do mundo e às quais estamos unidos, sobretudo na celebração sacramental. Por meio de seus ícones, revela-se à nossa fé o homem criado “à imagem de Deus [Cf. Rm 8,29; 1 Jo 3,2] ” e transfigurado “à sua semelhança”, assim como os anjos, também recapitulados em Cristo:

Na trilha da doutrina divinamente inspirada de nossos santos Padres e da tradição da Igreja Católica, que sabemos ser a tradição do Espírito Santo que habita nela, definimos com toda certeza e acerto que as veneráveis e santas imagens, bem como as representações da cruz preciosa e vivificante, sejam elas pintadas, de mosaico ou de qualquer outra matéria apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre os utensílios e as vestes sacras, sobre paredes e em quadros, nas casas e nos caminhos, tanto a imagem de Nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, como a de Nossa Senhora, a puríssima e santíssima mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os santos e dos justos [II Conc. de Nicéia: DS 600] .

Assim como as fotografias de nossos pais nos fazem lembrar deles, assim as imagens de Cristo nos fazem recordar o próprio Cristo. As imagens de Maria Santíssima também nos recordam Cristo, pois ela é a mãe de Cristo. Sua única e permanente recomendação é: "Façam o que Ele vos disser" (Jo 2,5). Quando vemos, por exemplo, a imagem de Paulo Apóstolo, nós nos lembramos logo de tudo o que ele escreveu sobre Cristo e como se dedicou a Ele. As imagens dos discípulos de Cristo recordam Cristo. São Francisco de Assis mudou de vida diante da imagem de Cristo crucificado. Olhava para a imagem horas a fio. Quando encontrava um pobre, um doente ou um marginalizado, via neles a imagem de Cristo crucificado que havia contemplado horas antes e os tratava como se estivesse cuidando do próprio Cristo.

De acordo com antiquíssima tradição da Igreja, as imagens sagradas, devem ser expostas à veneração dos fiéis, para que eles sejam levados aos mistérios da fé que celebram. Mas, temos que ter o cuidado de não aumentar exageradamente o número das imagens e que a sua disposição se faça na ordem devida, de tal modo que não distraiam os fiéis da celebração. Normalmente, não deve haver na mesma igreja mais do que uma imagem do mesmo santo. Em geral, no ornamento e disposição da igreja, no que se refere às imagens, procure atender-se à piedade de toda a comunidade e à beleza e dignidade das imagens.

O Concílio de Nicéia há muitos anos atrás já havia ensinado e recomendado sobre a conveniência de colocar imagens sagradas nas famílias, nas Igrejas e nos locais públicos. Para que? Para que através das, imagens os cristãos daquela época e também os de hoje se lembrem freqüentemente de Cristo, de sua pessoa e de suas mensagens e se recordem também que os Santos foram heróis que viveram e apregoaram o que Cristo determinou. Você pode estar pensando: "Mas Cristo é Deus e não precisa de ninguém?" No entanto, mesmo em sua vida terrena ele admitiu intermediários e os atendeu. Em Caná, ele admitiu a intercessão de Maria Santíssima e atendeu o seu pedido ( Jo 2,1 -12 ) . Admitiu a intercessão do centurião romano em favor de um empregado e atendeu sua solicitação (Lc 7,7). Cristo até elogiou os intermediários, por causa da fé. Jesus, que atendeu intermediários no mundo, não poderá atender também intermediários no céu? Cristo determinou: 'Amem seus inimigos e rezem pelos que os perseguem.'(Mt 5,44). São Paulo ensina: 'É bom rezar pelos outros e isto é agradável aos olhos de Deus'(1Tim 2,1-3). Pedro e Paulo não só rezavam pelos outros, como também conseguiam de Deus favores e curas para os outros. No final de tudo nós sabemos que é Deus quem vai atender. O Concilio nos ensina: "Os Santos sejam cultuados na Igreja segundo a tradição. Suas relíquias autênticas e imagens sejam tidas em veneração. Pois as festas dos Santos proclamam as maravilhas de Cristo operadas em seus servos e mostram aos fiéis os exemplos oportunos a serem imitados." (SC 111).

CIC § 1162

“A beleza e a cor das imagens estimulam minha oração. É uma festa para os meus olhos, tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a Deus [S. João Damasceno. Imag. 1,27: PG 94, 1268B] .” A contemplação dos ícones santos, associada à meditação da Palavra de Deus e ao canto dos hinos litúrgicos, entra na harmonia dos sinais da celebração para que o mistério celebrado se grave na memória do coração e se exprima em seguida na vida nova dos fiéis.

Sem dúvida, o homem exprime também a verdade de sua relação com Deus pela beleza de suas obras artísticas. O tema da veneração das imagens sacras deve ser entendido dentro deste sentido do estímulo à fé. Vemos aqui no texto do Catecismo que, São João Damasceno explicava assim: “A beleza e a cor das imagens estimulam minha oração. É uma festa para os meus olhos, tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a Deus”. Com seus escritos, São João Damasceno defendeu a Igreja contra os iconoclastas, que condenavam o uso de imagens na Igreja. Os iconoclastas consideravam a veneração das imagens sacras como um retorno à idolatria pagã.

Contra a heresia iconoclasta, a Igreja se pronunciou solenemente no II Concílio de Nicéia realizado no ano 787. O Papa São Gregório Magno já havia insistido no caráter didático das pinturas nas igrejas, úteis para que os analfabetos, ao contemplá-las, possam ler, pelo menos nas paredes, aquilo que não são capazes de ler nos livros.

E São Tomás de Aquino reafirmou que o culto da religião não se dirige às imagens em si como realidades, mas as considera em seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que dirige à imagem enquanto tal não termina nela, mas tende para a realidade da qual é imagem (explicou o Doutor da Igreja).

Para refletir:

Amigo(a) ouvinte, é próprio do ser humano se expressar em representações gráficas. Vemos isto na mais remonta antigüidade e até na pré-história: os desenhos rudimentares que se encontram nas paredes das cavernas onde vivia o homem primitivo. A criança, desde pequena, faz os seus rabiscos e diz: este é o papai, esta é a mamãe, este é o irmãozinho. É, portanto, inato ao ser humano a tendência a representar através de imagens suas idéias, seus sentimentos e sua história.

Não nos esqueçamos de que também nossos irmãos são imagens e semelhança de Jesus Cristo! Isso nos ajudará a tratá-los com mais respeito e fraternidade.

Rezemos irmão, utilizando as palavras escritas no Prefácio dos Santos I: "Senhor, Pai Santo, Deus eterno e Todo Poderoso, na assembléia dos Santos vós sois glorificado e, coroando seus méritos, exaltais vossos próprios dons. Nos vossos Santos e santas ofereceis um exemplo para a nossa vida. A comunhão que nos une, a intercessão que nos ajuda. Assistidos por tão grandes testemunhas, possamos correr perseverantes, no certame que nos é proposto e receber com eles a coroa imperecível. Por Cristo, Senhor nosso. Amém!"

Diácono Antonio Carlos
Comunidade Católica Nova Aliança